ou, A COMPULSÃO HOTELEIRA
No lugar da “casa rosa”, será construído hotel com projeto sustentável Marcelo Carnaval / Agência O Globo |
O incentivo às indústrias da construção civil e hoteleira exacerbado nos últimos cinco anos, retratado em Rio + 20 LEIS URBANÍSTICAS, continua a dar frutos, ao menos para alguns segmentos: a Cidade do Rio de Janeiro é um canteiro de obras. Quanto ao o futuro do cidadão que sofre no transporte público e nas filas dos hospitais públicos todos os dias, só o futuro dirá.
O post RIO DE JANEIRO – HOTÉIS EM REFORMA, EM CONSTRUÇÃO, EM PROJETO OU EM ESTUDOS ainda é um dos mais acessados do blog, possivelmente pelo impacto que causa a lista enorme reproduzida dos estudos da professora Ana Luiza Nobre.
Na semana passada o jornal O Globo informou que as últimas casas da Avenida Atlântica darão lugar a hotéis de luxo. As demolições já começaram.
No Leme o Edifício Erlu, um prédio art-decó de oito andares, será substituído por um hotel de 60 apartamentos, como informou a coluna Gente Boa em fevereiro.
As casas, uma vez que não eram preservadas nem tombadas, um dia iriam abaixo. Não aconteceu antes por certo devido a motivos de força maior. O caso do edifício é mais intrigante. Para haver compensação, em regra, a substituição é feita por prédio de porte muito maior, ou cujo uso no local seja mais vantajoso do ponto de vista econômico. Para o terreno do Edifício Erlu o somatório gabaritos e área de construção maiores + ‘ponto’ espetacular – Zona Turística da Avenida Atlântica no Leme – deve ter sido imbatível. Naturalmente, a família proprietária o vendeu.
Edifício Erlu, Leme, Rio de Janeiro Imagem: Blog Foi um Rio que Passou |
Há outro item fundamental naquela equação: as benesses urbanísticas concedidas pelo chamado Pacote Olímpico 1, também mencionadas no post PACOTE OLÍMPICO 2 – O HOTEL HYATT E A APA MARAPENDI: não é coincidência que a lista de hotéis novos ou em reforma no Rio de Janeiro seja gigantesca. A lei de 2010 mudou a relação potencial construtivo x valor da terra e ainda incluiu outras variáveis representadas pelos benefícios fiscais gerais e, na Zona Portuária, pelas CEPACs, os Certificados de Potenciais Adicionais de Construção.
O trabalho dado aos analistas financeiros voltados para o mercado imobiliário foi compensado, ou não teríamos apenas em Copacabana “… 16 novos empreendimentos hoteleiros em análise, licenciados e em construção (…) quatro hotéis em fase de ampliação (…) – e que “até 2016 (…) 1.890 novos quartos em hotéis e albergues”, segundo a Agência Rio Negócios em notícia de 10/08/2013.
No levantamento feito por Ana Nobre constavam 64 hotéis sendo construídos ou e em estudos, mais 19 hotéis em reforma, alguns com ampliações significativas.
O Globo |
Sobre a ‘casa de pedra’, a mesma notícia informa que “— A demolição começará até dezembro porque, senão, perco as vantagens (concedidas aos novos empreendimentos hoteleiros para Copa e Olimpíadas). O hotel terá 12 andares e entre 80 e cem apartamentos. Será um hotel butique, com preços no patamar dos do Hotel Fasano — afirma Peres”.
O incentivo às indústrias da construção civil e hoteleira também afastou a possibilidade de Copacabana receber mais uma escola pública na Rua Francisco Otaviano. O prédio comprado pela Prefeitura para essa finalidade foi vendido para ali ser feito…mais um hotel! Finada escola, futuro hotel.
PROJETO PARA CONSTRUÇÃO DE COMPLEXO TURÍSTICO ONDE FUNCIONOU O ANTIGO HOTEL DAS PAINEIRAS, PARQUE NACIONAL DA TIJUCA, COM ESTACIONAMENTO PARA 400 VAGAS DE VEÍCULOS Imagem: Internet |
Outro tema que nasceu polêmico refere-se ao projeto para o antigo Hotel Paineiras, na Floresta da Tijuca, abandonado há décadas. O que deveria ser uma boa notícia – a recuperação e utilização adequada do imóvel – já causa espanto pelo porte da construção no meio da mata preservada, que, tal como o projeto de Shopping e Centro de Convenções para a Marina da Glória, foi aprovado pelo IPHAN, órgão de tutela da floresta tombada!
O Globo |
Quanto ao caso das Paineiras, salvo explicações convincentes – o que soa impossível – até aqui parece ser uma proposta totalmente equivocada, ou mesmo mal intencionada, como analisa o blog O Rio que Passou.
Em DEMOLIÇÕES 2 – RENOVAÇÃO URBANA E A ‘CIDADE INFORMAL’ dissemos:
“Em que diferirá das várias ocupações irregulares com
favelas/comunidades no Alto da Boa Vista?
A origem da iniciativa, a concordância do
poder público, alguma lei urbanística específica a ser feita
– nem as leis prejudiciais do “Pacote Olímpico 1” amparam
a proposta –, e as assinaturas oficiais
Em tempos de manifestações, aguardemos as opiniões das instituições ligadas ao urbanismo e ao meio ambiente, e da academia, sobre a enxurrada hoteleira e a invasão predadora da Floresta da Tijuca, enquanto o Hotel Nacional continua abandonado. E de juristas sobre tantos benefícios fiscais e os possíveis desdobramentos caso as construções favorecidas não fiquem prontas no prazo determinado. Devemos nos lembrar de que o antigo Hotel Meridién quase foi transformado em edifício de escritórios. Depois de fechado durante vários anos foi adotado e reformado por uma nova bandeira! É o que nos dá esperança!
Se Janot analisou muito bem A Esquizofrenia do Poder, pedimos licença para lançar o sub-tema que nos preocupa – A Compulsão Hoteleira -, desejando, sinceramente, que haja demanda pelos milhares de quartos oferecidos na Cidade Maravilhosa e para que os hotéis novos fiquem repletos para muito além dos 60% de ocupação atingidos durante a Copa das Confederações* e da Jornada Mundial da Juventude. Que o aumento extraordinário do valor das diárias dos hotéis para a época Copa do Mundo, como tem sido anunciado, não assuste os futuros hóspedes.
A Floresta da Tijuca, no entanto, deve ser poupada do tal complexo turístico com 400 vagas de automóveis previsto para ocupar a área protegida que é o Parque Nacional da Tijuca.
Diferentemente das favelas, trata-se de uma invasão oficial, como se pretendeu fazer no Parque do Flamengo / Marina da Glória.
Internet |
_________________
O GLOBO – 06/06/2013
COPA DAS CONFEDERAÇÕES NÃO ENCHE HOTÉIS DO RIO
Com menos de 60% dos quartos ocupados para o evento, setor já teme sofrer com excesso de oferta depois de 2016
COPA DAS CONFEDERAÇÕES NÃO ENCHE HOTÉIS DO RIO
Com menos de 60% dos quartos ocupados para o evento, setor já teme sofrer com excesso de oferta depois de 2016
A menos de dez dias da Copa das Confederações, a ocupação da hotelaria carioca para o período do campeonato está em 57,29%, segundo a ABIH-RJ. (…)