Morro do Pasmado e a Paisagem Maculada – Uma polêmica quase internacional

Pão de Açúcar visto do Mirante do Pasmado – Foto: Blog Casal Só Viagem

Conforme amplamente divulgado pela grande mídia e objeto de diversos posts neste site urbano-carioca, a cada dia fica mais próxima a possibilidade de que seja erguida uma construção no topo do Morro do Pasmado, acrescida de um obelisco de cerca de 22,00m de altura, à guisa de criar o Museu do Holocausto.

Nunca será demais repetir que todas as homenagens aos mortos, e esforços para uma das barbaridades que ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial não seja esquecida nem repetida, são válidos e justos. O sítio escolhido, entretanto, é inadequado, pelos vários motivos já expostos*.

Segundo notícia publicada no jornal O Globo de ontem – Obelisco em homenagem às vítimas do Holocausto provoca polêmica – outros atores poderão ser acionados:

“A principal reação contrária é do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomus), ONG associada à Unesco. Nos próximos dias, a entidade divulgará uma moção de repúdio à ideia e acionará o Heritage Alert, espécie de advertência quando considera que alguma iniciativa expõe a risco um patrimônio da Humanidade” (O Globo, 11/06/2018).

A vereadora que defende o projeto, viúva do seu idealizador, afirma que “existe um simbolismo sobre o local escolhido, já que o mirante fica no Parque Yitzhak Rabin” e que “não tem esse impacto visual que estão alardeando”, duas considerações inconsistentes. O autor do projeto, por sua vez, diz que “o impacto visual no entorno não será tanto assim”, o que nos faz indagar qual seria o “tanto” aceitável, se isso fosse possível.

Os argumentos fracos lembram uma piada que corre, entre arquitetos, sobre Paris. Diz-se que o melhor lugar da cidade é a Torre de Montparnasse. O motivo? De lá se consegue ter a vista mais bonita da cidade, pois o edifício não é visto!

Pelo noticiado, parece que os órgãos de proteção do patrimônio cultural ainda não se pronunciaram a respeito, muito embora o prefeito da cidade esteja promovendo um show para angariar fundos para a tal construção.

A iniciativa do prefeito, estranha ao cargo e, talvez, considerada simpática por alguns, traz uma questão importante: as prioridades para nossa combalida e abandonada cidade. Tais fundos arrecadados melhor seriam aplicados na construção de uma escola, um posto de saúde, uma creche, um abrigo, ou outro equipamento urbano público – praças, por exemplo – próximos a uma das dezenas de comunidades carentes e desassistidas existentes no município.

Quanto ao estranho show, ao menos tomara que Sua Excelência cante bem e agrade ao público.

Urbe CaRioca

*Posts anteriores sobre o assunto

Morro do Pasmado – A paisagem maculada e a opinião de Hildegard Angel

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Morro do Pasmado e a Paisagem Maculada – Homenagem e Desprestígio 

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Mais uma ofensa à paisagem, bem maior da Cidade do Rio de Janeiro.

 

 

  1. Não vejo como um monumento de homenagem e lembrança, e que tem a finalidade de alertar contra a tirania e o racismo, possa macular esse lindo local. Será que o Monumento aos pracinhas macula o Parque do Flamengo? O da tenentada a Av. Atlântica? Parques são lugares para escultura e monumentos.

    1. Prezada Sra. Silvia Levy,
      Grata pelo comentário. Na visão deste blog as comparações que a Sra. traz não procedem. A Tenentada é uma escultura de pequeno porte diante do espaço criado com a duplicação da Avenida Atlântica. O Parque do Flamengo foi idealizado após a construção do aterro inicialmente destinado apenas a receber pistas para veículos. Os projetos de Afonso Eduardo Reidy formam um conjunto concebido para o local, construído artificialmente, plano e gigantesco. O Morro do Pasmado é um monumento natural que emoldura a Enseada de Botafogo junto com o Morro da Urca e o Pão da Açúcar, símbolos da cidade, ícones da nossa natureza exuberante que não precisam de mais adereços, o que independe da finalidade a que se destina a obra pretendida naquele espaço público.
      Atenciosamente.
      Andréa Redondo / Blog Urbe CaRioca

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