O TÁXI, O MOTORISTA, A MALA, E O FINAL FELIZ – PARTE 1

CrôniCaRioca
Proposta de novo “bigorrilho” apresentada à Prefeitura, felizmente não aprovada.



PARTE 1 – O SUSTO

Atabalhoada, chamei o táxi. Sacolas, bolsas, e a malinha vermelha que me acompanhava há dias. Preocupações e cansaço em excesso impediam raciocinar bem.  Havia pontos de táxis por perto. Exausta, preferi buscar na rua ao lado, início de um trajeto mais curto.

Foi o primeiro que surgiu. Hesitei quando notei que não havia identificação na lateral traseira do amarelinho, coisa que só se sabe depois de chamar o táxi. Gentil, o motorista me ofereceu colocar a mala pesada à frente do banco do carona, no chão do carro. Aceitei, entrei, escolhi o caminho.

Em geral converso pouco com alguns motoristas, mais um pouco com os que gostam de trocar ideias, se coincidir que ambos – ele e eu – estejamos dispostos. Gosto de perguntar onde esses bravos trabalhadores moram e de conhecer o esforço dos que “rodam” pela Zona Sul do Rio de Janeiro, enfrentando trânsito infernal todos os dias. 

Na maioria das vezes vêm de longe: Zona Oeste, Baixada Fluminense, e até São Gonçalo. Nesse dia ambos éramos silenciosos. Nem o seu nome perguntei.

Saí dos devaneios. Notei que a música me agradava. Ele ouvia a Rádio JB FM. Arrisquei.

_”Gosto muito dessa rádio, teve uma época em que acabou, o Sr. sabia?”
_”Trabalho há vinte e cinco anos na ‘praça’ e sempre ouvi”.

Novo silêncio, arrisco de novo.

_”Onde o Sr. mora?”.
_”São Cristóvão”.
_”Que bom, é perto… bem, perto para quem ‘roda’ pelo Centro e pela Zona Sul…”.
_”A Sra. sabe, saio de casa às 5.00h e trabalho até às 21.00h”.
_”É tempo demais”.



_”Seu carro é espaçoso, que modelo é?”.
_”Spin, da Chevrolet”.



Fim de corrida junto com telefonemas da família, pagamento, troco, sacolas, bolsas…

_”Obrigada. O Sr. devia trabalhar um pouco menos… Boa noite”.
_”É… Mas a vida está difícil… Boa noite”.
_”Verdade, pra todo mundo”.

Dois minutos depois de entrar em casa, o susto: “Minha mala ficou no táxi!”. Documentos, remédios, papelada, coisas úteis só para mim. O que fazer? Era um táxi sem nome, de motorista autônomo do qual eu não sabia o nome. Vídeos das câmeras de segurança para procurar a placa do carro só poderiam ser vistos no dia seguinte. Se desse uma olhada nos papéis o motorista saberia que eram de alguém que estava hospitalizado e em que hospital.

Levaria a malinha até lá?

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