PEDRAS PORTUGUESAS E CARIOCAS

UtilitáRio
Calçada da Avenida Atlântica, Leme e Copacabana, Rio de Janeiro
Picasa Web Albuns
Falar sobre pedras portuguesas no Rio de Janeiro é atrair polêmica, na certa. Há quem as odeie e quem as defenda.
O Urbe CaRioca está no segundo grupo: é apaixonado pelas calçadas do Rio revestidas de pedras portuguesas, sejam lisas ou formando lindos desenhos. São herança da terrinha, de lá onde estão as nossas raízes lusitanas. Vieram depois do calçamento pé-de-moleque e do calçamento português constituído de pedras gigantescas de granito rejuntadas com pedras menores, que ainda existem em alguns bairros.

Antiga Rua da Ajuda, início do século XX. Proximidades
do Teatro Municipal, Centro, Rio de Janeiro
É possível observar as calçadas revestidas com grandes pedras de granito

Há muitas vantagens no calçamento de pedras portuguesas. Entre elas, o fato de ser revestimento permeável, qualidade necessária para a absorção parcial das águas de chuva nesse Rio tropical de tantas enchentes e alagamentos, cada vez mais presentes função das mudanças climáticas, diz-se.

Outro aspecto importante é a facilidade da retirada e colocação para mudanças e consertos na confusa rede de instalações subterrânea. As diferenças de coloração que surgem nos trechos refeitos logo desaparecem com a ação do tempo, garantindo a uniformidade do conjunto das calçadas.

Praça Carlos Alberto, Porto, Portugal
Blog Porto Sentido
Calçada de Pedra
Portuguesa, Lisboa
Blog Portal da Cidadania

Para isso, entretanto, há uma condição fundamental. O serviço deve ser bem-feito. Infelizmente, não é o que ocorre na Cidade do Rio de Janeiro. Em Portugal, ao contrário, as calçadas são lisinhas, as pedras encaixadas à perfeição, quase não há espaço para rejunte entre elas.

Praça do Rossio, Lisboa, Portugal
www.cristovao1.wordpress.com

O site CALCETEIRO descreve as principais “malhas” de calçada:


Existem diferentes “malhas” – técnicas de assentamento da pedra. As mais conhecidos e utilizadas são:
Meia – esquadria“: assentamento da pedra mais ou menos rectangular é efectuado na diagonal do pavimento em dois sentidos. É esta a malha mais comum.
Assentamento direito“: pedra assenta-se paralelamente à beira do pavimento, não utilizados “cantos” ou triângulos da pedra na beira da calçada. Encontra-se mais no norte do Portugal ou nas zonas de extracção do granito. Também é utilizada para sinalizar passagem dos peoes.
Leque“: assentamento em forma de leque . Encontra-se com mais frequência no norte da Europa.
Sextavado“: A pedra tem forma do hexaedro, e assenta-se como em favo. Encontra-se nos trabalhos mais antigos.
Malhéte” ou “calçada portuguesa“: a pedra não tem corte regular, assente-se em modo irregular, com objetivo de encostár ao máximo.

Monumento ao Calceteiro, Lisboa
Foto: Dias dos Reis
Fonte: www.calçadaportuguesa.blogspot.com.br
O historiador Milton Teixeira nos conta que:
“No Rio de Janeiro, a decisão de introduzir esse tipo de calçamento partiu do Prefeito Pereira Passos durante seu profícuo mandato, tendo no ano de 1904 contratado em Portugal 33 calceteiros e comprado lotes de pedras portuguesas para aplicar nos novos logradouros que estava reformando ou abrindo na velha urbe carioca. Pouco depois, ele mandou vir mais 170 homens de Lisboa.

Entretanto, nenhuma calçada de pedra portuguesa foi realizada antes de novembro de 1905, quando a primeira de todas foi inaugurada na avenida Central (desde 1912 avenida Rio Branco), próximo à atual praça Mauá.

Calçamento caro, importado e de difícil execução, intentou o Prefeito Passos cobrar em maio de 1905 uma taxa de 25% sobre o imposto predial dos edifícios que dessem frente para tais calçadas, mas a reação popular pela imprensa foi contrária e violenta, sendo revogada a medida”.

O texto integral está em AS CALÇADAS EM MOSAICO DE PEDRAS PORTUGUESAS DO RIO DE JANEIRO publicado no Jornal Copacabana.

Como se vê, há 100 anos calceteiros portugueses são trazidos para ensinar aos administradores cariocas como assentar as pedrinhas. Um século de aulas e a maioria das calçadas permanece em estado deplorável. Incompreensível!

O problema, na visão do Blog, não é a dificuldade de aprendizado, mas, a falta de ensinamento geral: aqui os responsáveis pela manutenção das calçadas são os proprietários das construções lindeiras. Ou seja, as casas ou condomínios defronte aos passeio públicos. Aos gestores da cidade fica a tarefa de manter as calçadas da orla e em frente aos prédios públicos, e canteiros centrais, infelizmente, pouco exemplares…

Cinelândia, Centro, Rio de Janeiro
Foto:Cora Rónai, Maio 2009.

Ao exigir a conservação das calçadas, nada mais lógico do que municipalidade executar as que são de sua responsabilidade à perfeição, e conservá-las.

Aos demais, explicar como fazê-lo antes de notificar o cidadão exigindo reparos.

Sr. Sérgio, um Calceteiro CaRioca, Leblon, Maio 2012
Acervo Urbe Carioca

Os materiais brasileiros: soquete, pá, carrinho de mão,
garfo, enxada, colher de pedreiro, martelo de pedra,
martelete,cimento, areia, saibro e pedras portuguesas.
O Blog foi ao local conferir o trabalho e considerou-o
bem feito, dentro do padrão observado pela cidade.

O Blog propõe-se a colaborar com a segunda premissa. Aos proprietários e síndicos, os caminhos a serem trilhados em busca de uma calçada bonita e regular, sem os buracos, murundus e depressões que causam tantos tombos e machucados aos pedestres cariocas estão nos textos indicados abaixo, que reúnem história e opiniões sobre as famosas pedras portuguesas e seus mosaicos.
No item 1, de um site da “terrinha” consta receita para a colocação perfeita desse belo calçamento, que pode durar muitas e muitas vidas!
Boa leitura!
1.   Colégio São Miguel, Portugal – Calçada à Portuguesa. Além de um belo histórico, nos links APLICAÇÕES e ASSENTAMENTOS constam as medidas ideais das pedras conforme o uso do pavimento, e o método de colocação.
2.  CalçadaPortuguesa – Wikipedia
3.   A Arte da Calçada. Junho, 2009. 
5.   Pela absolvição da pedra portuguesanas nossas cidades – Cristóvão Duarte. Maio, 2009.   

6. Portal de Cidadania – Vamos manter e preservar as calçadas de pedras portuguesas. Maio, 2009.

7. Cantando Pedra – Cora Rónai, O Globo. Maio, 2009.

8. Do blog Curiosidades Cariocas – História e Estórias do Rio de Janeiro – PedrasPortuguesas. Outubro, 2008.   

Comentários:

  1. Boa noite!
    Tão lindas as calçadas calçadas de pedras portuguesas… No entanto, esse exagero de se colocá-las em todo lugar só revela o que ninguém tem coragem de reconhecer: não se gosta de criança, aqui, por mais absurdo que pareça, e eu mesmo comprovei isso. Eu trouxe da França, em uma viagem com minha filha então pequena, dois patinetes, um para ela e um de adulto para mim, com suspensões. O que não me impediu de fazer umas duas ou três quedas, justamente pela péssima manutenção das calçadas com lusas pedras. Efetivamente, o número de crianças de patins e patinete é ínfimo. Esse tipo de calçamento deveria ser colocado apenas ao redor de prédios e praças do Rio antigo, utilizando-se materiais mais modernos para o bem-estar e para a segurança do cidadão e contribuinte nos demais logradouros.

  2. Oi amigo, moro em Brasília e estou procurando aquelas pedras grandes que são utilizadas em calçadas no rio de janeiro. Pode me dar uma dica onde encontrar? Obrigado

    1. Prezado Carlos Renato, obrigada pelo contato. Se você se refere às pedras grandes antigas usadas desde o período colonial, a sugestão que posso dar é entrar em contato com a Prefeitura e perguntar se a municipalidade guarda as belas pedras quando realiza obras de reforma e reurbanização. Infelizmente, temo que não o tenham feito, e, sim, destruído as pedras para usar de outra forma, em pedaços menores. Quanto a pedras usadas em obras mais recentes, a busca deve ser feita nas marmorarias especializadas, que, por certo, candidataram-se em processos licitatórios e venceram, esperamos!
      Ab.

  3. Caro Flávio,
    Obrigada pelo comentário. Sim, a polêmica está também em Lisboa, infelizmente. Felizmente, porém, há defensores dos mosaicos lá onde estão as nossas raízes. Tomara que sejam ouvidos!
    O problema é a falta de manutenção e os custos. Mas, parece que se o primeiro for bem feito, o segundo diminuirá. Ab.

  4. Lisboa está neste momento discutindo a manutenção das calçadas de pedras portuguesas. A Prefeitura tem um projeto de eliminar a maioiria das calçadas em pedra, as que não têm desenhos artísticos, alegando o risco de quedas (as de lá são muito mais lisas) e, óbvio, custo de manutenção. Uma das alegações contra a Prefeitura é que, com manutenção mais bem feita, as calçadas já provaram que duram pelo menos 200 anos…

  5. Maravilhoso! Viva nossas calçadas de pedra portuguesa! Se entendi bem, o que deve acontecer para elas permanecerem bonitas e seguras é simplesmente a prefeitura orientar os responsáveis sobre como fazê-lo, certo?

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