PEU NÃO RESOLVE PROBLEMAS URBANOS, de Canage Vilhena

Não tivemos oportunidade de comentar a reportagem de Selma Schimit publicada no último dia 29/10 no jornal O Globo – ‘Projeto quer incentivar ocupação de áreas com infraestrutura, como o Porto’ -, que teve o subtítulo ‘Proposta contraria ideia de Crivella de avançar para Vargens’. Aqui interessa-nos agora o subtítulo, embora tanto a Zona Portuária da Cidade do Rio de Janeiro como a chamada Região das Vargens tenham sido assunto recorrente neste site, o último, inclusive, foco de artigos do arquiteto Canage Vilhena, conhecedor da área e de seus inúmeros problemas urbanos (marcadores ‘PEU Vargens’ e ‘Índices urbanísticos’, entre outros).

A área foi também assunto de Editorial do mesmo jornal – ‘Projeto para adensar região das Vargens é um erro’. A crítica à proposta do prefeito e a defesa de aproveitamento de bairros dotados de infraestrutura na Zona Norte e na Zona Portuária contidos no argumento merecem aplausos, mesmo lembrando que o grupo empresarial investiu no projeto de revitalização do Centro/ZP com aportes para o Museu MAR e o Museu do Amanhã, o que não invalida a análise correta, embora a carência de infraestrutura da Zona Oeste deva ser considerada também prioritária, como defende Canagé, que volta ao tema e comenta as reportagens citada em texto contundente sobre o que entende ser a política urbana adotada há muito, no Rio.

Urbe CaRioca

PEU* NÃO RESOLVE PROBLEMAS URBANOS

Ou, o debate no jornal o globo sobre o PEU das Vargens

CANAGE VILHENA SEGUNDA-feira, 05 DE NOVEMBRO DE 2017

 

O debate sobre a inadequação da proposta da PREFEITURA DO RIO para a ocupação intensiva da região da UNIDADE ESPACIAL DE PLANEJAMENTO- UEP, formada pelos bairros de CAMORIM, VARGEM PEQUENA, VARGEM GRANDE E PARTE DO RECREIO DOS BANDEIRANTES, foi retomado graças à matéria da repórter Selma Schmidt d´O GLOBO, em 29/10 :

“Um freio para a expansão da fronteira urbana”

Esta matéria teve como base a tentativa do prefeito CRIVELLA de buscar, no exterior, recursos para convencer o mercado imobiliário sobre os bons lucros possíveis com o aumento de gabaritos para construções de prédios de grande altura, em terrenos de baixa resistência decorrente da fragilidade ambiental e sem infraestrutura.

Agora O GLOBO publica na sua edição deste domingo, 5/11, o editorial:

“Projeto para adensar região das Vargens é um erro.”

Este editorial não começa bem com a frase:

“A ideia do prefeito Marcelo Crivella de expandir a cidade para as Vargens, na Zona Oeste, é um equívoco.”

Enganou-se o editor, a ideia não é do CRIVELLA.

Ele apenas dá continuidade à POLÍTICA URBANA VELHACA mantida na PREFEITURA DO RIO desde PEREIRA PASSOS, o patrono do ideário para o planejamento urbano da Prefeitura do Rio. São ideias com grande prestígio junto à “oficialidade da arquitetura” que sustenta ideologicamente esta política em detrimento da implantação da nova POLÍTICA URBANA aprovada na CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

A PREFEITURA DO RIO insiste em desconhecer os princípios da nova POLITICA URBANA, regulamentada pelo ESTATUTO DA CIDADE, mantendo a política velhaca de gestão do desenvolvimento urbano através normas para organização do mercado imobiliário formal, junto com obras pontuais de melhoria em alguns pontos da cidade, sem qualquer mudança na ideologia dominante na gestão do planejamento urbano do município.

As mudanças na legislação de controle das construções (tipo códigos de obras, leis de loteamento e zoneamento) vêm combinadas com grandes intervenções no sistema viário para atender aos exploradores do sistema de transporte público e consequente valorização dos terrenos vazios para aquecer o mercado imobiliário.

A nova etapa desta velha política, a partir da década de 1990, teve muito mais forca depois da ascensão do arquiteto LUIZ PAULO CONDE ao governo municipal guindado por CESAR MAIA.

Desde então foi arquivado o PLANO DIRETOR DE 1992, foi fechado o CONSELHO MUNICIPAL DE POLÍTICA URBANA- COMPUR (depois reaberto no 2º mandato de CESAR MAIA), para adotar o PLANO ESTRATÉGICO importado de Barcelona, adaptado pela FECOMERCIO a pedido do prefeito, na sua primeira versão.

O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO foi a grande novidade trazida por LUIZ PAULO CONDE para não implantar a nova POLITICA URBANA; tem sido explorado como instrumento urbano para substituir planos de desenvolvimento urbano harmônico para fazer da Cidade do Rio de Janeiro uma cidade inteira, não dividida conforme a qualidade do espaço urbano, em três partes distintas: CENTRO TRADICIONAL ZONA NOBRE E ZONA SUB-URBANA.

Portanto, CRIVELLA não é o dono desta ideia, produto do ideário mantido na Prefeitura do Rio, pelo seu corpo técnico, com amplo apoio dos “donos da verdade absoluta” que domina o pensamento urbanístico e arquitetônico no Rio de Janeiro, tratado pelo conjunto da categoria dos arquitetos e engenheiro como um TABU.

Um TABU que se mantém pelo absoluto silêncio sobre a manutenção desta POLÍTICA VELHA.

CRIVELLA é apenas mais um na prova de revezamento a cada 4 anos para manter a POLÍTICA URBANA enganosa.

A adoção do PROJETO DE ESTRUTURAÇÃO URBANA, o PEU, é outro aspecto importante desta POLÍTICA enganosa, que serve apenas ao mercado imobiliário e não à melhoria das condições de vida no município do Rio de Janeiro.

Para sustentar esta política, usa-se a IDEOLOGIA DO CENTRALISMO URBANÍSTICO, em artigos no Jornal O GLOBO, cujo objetivo é orientar os investimentos da PREFEITURA para o CENTRO tradicional e outras áreas com boa infraestrutura, em detrimento da ZONA OESTE, que não tem e continuará sem ter as funções URBANAS BÁSICAS completas e as FUNÇÕES SOCIAIS DA CIDADE.

O CENTRALISMO URBANÍSTICO é uma ideologia que merece ser analisada em outros artigos, mais debatida, afinal ela está aí, desde o período colonial até hoje, orientado as ações de gestão urbana da nossa cidade.

Em tempo: observar na reportagem as condições urbanísticas de São Cristóvão, objeto que foi de duas VERSÕES DE PEU.

 

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*PEU – Projeto de Estruturação Urbana

Links referências:

– Reportagem de Selma Schmidt > https://oglobo.globo.com/rio/projet…

– Editorial O GLOBO > https://oglobo.globo.com/opiniao/pr…

 

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