Foi difícil, confesso.
Incentivada pela mentora do Urbe CaRioca, a amiga e jornalista Marilia Martins – que insistia “o assunto é bom, há espaço para opinar” -, eu relutava.
Enquanto relutava conheci o ‘Bloguinho’, o cachorro de um amigo. Ao perguntar o porquê do nome ouvi em um tom carregado de obviedade: “Ora, porque todo mundo tem um blog!” – e o Urbe CaRioca ficou mais longe de nascer… Em seguida veio o comentário de uma amiga, ávida leitora e estudiosa, dizendo: “Não tenho tempo para ler tanta coisa, livros, jornais, textos na internet, e agora cada amigo que se aposenta faz um blog!”. Desânimo total!
Que diferença faria preservar e adaptar galpões antigos da Região Portuária como se faz mundo afora ou substituí-los, indiscriminadamente, para criar torres gigantes de 30, 40 e 50 andares e descartar prédios para habitação; demolir ou não demolir a via elevada chamada Perimetral; ocupar a Marina da Glória – no Parque do Flamengo – e a Floresta Nacional da Tijuca com um Centro de Convenções e estacionamentos para centenas de veículos; construir milhares de apartamentos no lamaçal deGuaratiba; beneficiar de forma desenfreada e perniciosa a indústria hoteleira; criar índices urbanísticos especiais para a Barra da Tijuca e a Região das Vargens; eliminar parte de uma Área de Proteção Ambiental para ao mesmo tempo construir um Campo de Golfe desnecessário e beneficiar o mercado imobiliário; ou questionar as prioridades dos governos do Estado e do Município quanto aos modais de transporte público e a escolha de trajetos?
Por outro lado, o desaparecimento da paisagem urbana mais humanizada e de marcos históricos e culturais acaba por ser assimilado, esquecido, ou lamentado, restando belas imagens e saudade até pelos que não viveram a época anterior.
Blog Jeferson Rosa |
Blog Tensitude Máxima |
Da página RIO ANTIGO, na rede social FB |
O ‘Boulevard’ do Rio Comprido, no passado um local aprazível, foi reduzido a um espaço abandonado, inseguro, escuro, degradado e perigoso – talvez seja hora de pensar sobre a demolição do Elevado e criar alternativas para o fluxo de veículos…
E o que se dizer das igrejas históricas demolidas para a abertura da Avenida Presidente Vargas, ou do Morro do Castelo e suas construções da época da fundação de São Sebastião do Rio de Janeiro e do Brasil Colonial, neste caso terra e memórias urbanas arrasadas para… criar uma esplanada destinada a receber edifícios? Se terá sido realmente necessário, provavelmente não. Se foi um bom negócio, certamente sim.
MORRO DO CASTELO VITOR MEIRELLES, Estudo para Panorama do Rio de Janeiro , 1885 |
Ora, esse é o motivo! Tentar, ao menos tentar demonstrar que novas marcas na paisagem carioca – nosso maior bem – podem ser extremamente nocivas; abrir espaço para que outros exprimam suas opiniões; provocar debates! Por que não?
Imaginemos que na época da elaboração do Plano de Massas para o bairro de Copacabana muitas vozes pedissem que os edifícios tivessem no máximo seis andares, que houvesse mais praças entre quarteirões e que as áreas coletivas baseadas em Agache fossem ajardinadas e não invadidas por garagens e lojas! Que agradável seria passear pelas ruas internas de Copa mais iluminadas vendo o céu azul do Rio – ou mesmo nublado! Os moradores dos apartamentos de fundos teriam os paredões dos prédios vizinhos amenizados pelo verde dos jardins!
De Carla Crocchi Fotos em Arte um presente para o Urbe CaRioca |
Por certo há muito que fazer em defesa da Cidade do Rio de Janeiro. Também é certo que o Blog Urbe CaRioca não tem a pretensão de ser ‘a palmatória do mundo’, ou melhor, do Rio, nem de acertar em todas as análises críticas e elogios.
Ao completarmos 100.000 visualizações desde a chegada ao mundo virtual em abril/2012, mais uma vez agradecemos pela acolhida que o blog tem recebido e renovamos o convite feito aos caros leitores para que nos enviem artigos a serem publicados. Que venham textos elogiosos e temas diversos! Serão benvindos!
Obrigada, Flávio, por prestigiar o blog. E que venham as discussões!
Ab.
Ana Lucia, Obrigada pelo comentário. Interessante, talvez polêmico em alguns aspectos. Fico contente por ver que o que escrevi resultou em uma reflexão dedicada da sua parte. Imaginemos a nossa cidade – construída exatamente do jeito que é – em uma enorme esplanada, sem morros, praias, lagoas, verde, a Floresta da Tijuca… Seria um horror. Arquitetura e espaços livres urbanos (criados) são precários e feios, com algumas exceções. Não vou falar de população, agora, nem dos governantes, em parte responsáveis pela dualidade à qual se referiu.. Apenas, só lembrar que a educação (e a falta dela) se refletem na civilidade (ou falta dela) e melhores condições de saúde. Repetindo, com exceções, sobra a paisagem natural. Tomara que ela consiga ser também bonita por dentro. Espero notícias sobre o evento para divulgar no blog. Ab.
Andréa
Engraçado. Eu, que sou tão pessimista em relação à cidade do Rio de Janeiro, e tenho uma certa admiração pelas pessoas que lutam por ela no meio de tantas forças contrárias e investidas agressivas dos "senhores do capital", me dei conta, lendo esse artigo, de uma coisa que é obvia: a paisagem é o maior patrimônio carioca. Nem a notícia de que a paisagem carioca se tornou patrimônio mundial tinha me feito atentar pra isso: nem a população do Rio tem tanto valor pra cidade quanto a sua paisagem. É uma realidade histórica. Não to dizendo que é bom ou ruim. Mas é essa paisagem que começou a se formar por motivos bélicos e disputa de territórios e foi ao longo dos séculos se configurando com essa dualidade riqueza x miséria, é a paisagem que é tão aclamada por nós e pelo mundo todo, assim mesmo, com todo o peso de uma construção que se fez subjugando a vida dos menos favorecidos.
Se o futuro não estiver reservando pra essa cidade cidadãos e governantes que entendam profundamente o significado disso, essa cidade vai continuar sendo a Cidade Maravilhosa aos olhos e inabitável aos cegos, inabitável aos videntes atarefados que não tem tempo para admirá-la – pois estão ocupados em fazê-la funcionar.
Vai continuar sendo a cidade maravilhosa cuja maravilha visual não se fez a partir de um conteúdo contextual. A cidade "bonita por fora".
Bom, parabéns pelo trabalho.
Parabéns! Fez a opção certa! Espero mesmo que o blog provoque muitas discussões!