UMA HORTA NA LAPA? A MINHA OPINIÃO, de Claudio Prado de Mello

Nos últimos dias, os integrantes do Grupo SOS PATRIMÔNIO têm divergido calorosamente sobre um assunto bastante polêmico. O tema foi a notícia nos jornais da cidade, de que máquinas escavadeiras estavam trabalhando na área da LAPA, e que a intenção era se fazer uma HORTA no meio daquela região, que foi urbanizada em 2012 e tornou-se uma grande Ágora urbana, local de concentração de pessoas, festas, baladas, concertos de música clássica e de encenações religiosas.


Cabe lembrar que uma URBE é o somatório de pessoas, de experiências de vida e que uma Cidade e seus espaços públicos não poderiam ou não deveriam ser alterados sem que, tanto a sua comunidade fosse ouvida, bem como estudos fossem feitos preventivamente de forma que esses impactos não repercutissem tanto na forma como no contexto ambiental de tal lugar.

Vejamos então alguns pontos:




1) A LAPA, como local nobre e privilegiado que é, conta hoje com uma grande área aberta onde shows já são realizados, e pode continuar a ter essa utilização com bons resultados – desde que fornecidos banheiros químicos. Tendo o majestoso Aqueduto ao fundo constitui uma paisagem consolidada no imaginário das pessoas; qualquer jardim, pomar, floresta ou horta constituirá uma alteração significativa na paisagem do local, cabendo lembrar que tal uso não consta no Projeto que fora encaminhado para a UNESCO, e que tramita para reconhecimento do Rio como Patrimônio da Humanidade como Paisagem.




2) Do ponto de vista da Arqueologia, há que se considerar que a LAPA, como resultado de aterros, remanejamento de entulhos de várias áreas do seu entorno, é hoje grande jazida arqueológica na qual a possibilidade de se encontrar material derivado do desmonte dos morros das Mangueiras bem como do de Santo Antônio irá trazer remanescentes do Rio Colonial; qualquer escavação na região deveria ser feita com critério e antecedência de estudos para que, no caso de constatado um sítio arqueológico, se procedesse no resgate decente desses vestígios. Fora isso, por mais que qualquer Organização Não Governamental-ONG, precisando dar visibilidade ao seu trabalho, queira demonstrar as vantagens da Agricultura Urbana, Agricultura Familiar, ou outra qualquer proposta ligada à Sustentabilidade e demais tendências atuais, há que se ter bom-senso, coerência e planejamento para que não se alterem os espaços públicos com intervenções que, claramente, darão errado.


TODOS sabemos que a Lapa é local de residência de população de rua e de dependentes de crack, e que segurança não é o forte da região. Fora isso o nível de poluentes como dióxido de carbono derivados dos milhões de veículos que transitam no seu entorno não permitirão que essas alfaces ou couves tenham qualidade para consumo e a considerar que muita coisa esta em jogo.

Caberia maior reflexão por parte da Municipalidade antes de implementar um projeto frágil como este.



Quanto à potencialidade arqueológica mostramos algumas fotos das escavações da Leopoldina que, apesar de estar em uma área que foi durante centenas de anos revirada e impactada por obras, quando a equipe de Arqueologia chegou para fazer pesquisas encontrou uma jazida surpreendente que gerou a descoberta de mais de 220 mil itens!

Surgiram ainda fundações dos prédios que um dia existiram no local como o do Matadouro Imperial, o Aqueduto de D João VI, os remanescentes da Chácara do Curtume e as Fundações da antiga Estação Alfredo Maia, verdadeiras preciosidades históricas.



Portanto, fica a humilde recomendação para que se tenha critério e cuidado neste momento, pois, mais do que visibilidade para um projeto que pode ser realizado em vários outros lugares, há que ter prioritariamente responsabilidade com a Urbe, seu Patrimônio conhecido e aquele não conhecido na sub-superfície.

Horta por horta…

Faça-se em algum local mais adequado!

Que não alterem uma paisagem e nem o que potencialmente importante pode estar abaixo do que se vê.


Claudio Prado de Mello

  1. kkk o unico problema Claudio é que voce nao prestaou atençao no projeto.
    Mal viu que nao se tratade uma simples HORTA mas de um complexo SAF, Sistema Agroflorestal, que ajuda na recuperaçao do solo da regiao, no melhoramento do microclima, da diversidade de especies, e ainda melhora o entorno como um todo.

    Antes de criticar procure se infomar direito.
    Abçs

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