Urbanicídio, de Laerte Rimoli

Conforme publicado recentemente neste espaço urbano-carioca, várias leis urbanísticas perniciosas para a Cidade do Rio de Janeiro foram aprovadas nas duas últimas semanas, às vésperas do recesso parlamentar, a saber: as operações urbanas para beneficiar o Clube de Futebol Vasco da Gama e a que visa levantar recursos para a construção de um Autódromo em Guaratiba; a que, mais uma vez, ressuscita as famigeradas “mais valia” e “mais-valerá”, todas contrariando princípios e índices construtivos estabelecidos no Plano Diretor aprovado em 16/01/2024.

Outras estão a caminho: a Operação Urbana Consorciada do Parque do Legado Olímpico RIO 2016 (PLC nº 169/2024), e a venda de 48 (quarenta e oito) terrenos – áreas públicas que serão desafetadas e terrenos Próprios Municipais (PLC nº 161/2024) – provavelmente para receber os gabaritos milionários liberados pelo Prefeito seus vereadores.

A desfaçatez não é privilégio do Rio. No último dia 2, o jornal O Globo publicou a reportagem “Novo plano urbanístico pode tirar Brasília do Patrimônio da Humanidade da Unesco”, proposta que vem recebendo críticas negativas, entre as quais a manifestação do Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro.

Enquanto as canetas do poder atuam como se as cidades fossem o quintal de cada autoridade, o jornalista Laerte Rimoli nos brinda com uma bela crônica em defesa da Brasília que ama e respeita.

Urbe CaRioca

Urbanicídio

Laerte Rimoli

Eu tinha 21. Tu, 17.

Crescemos juntos. Acumulamos erros e acertos.

Tu eras minha porta para o futuro. Eu, apenas mais um.

Cidade esquisita, tive vergonha de ti.

Não sabia te explicar. Tampouco tinha certeza de quem eu era.

Te olhei de banda. Flertei com outras.

Fui. O abandono me fez bem. Mas tu não me saías do pensamento.

Voltei. Cabreiro. Surpresa. Me re-apaixonei.

O poder, a seca, PIB alto, coexistência de concreto e vegetação. 

As linhas, as formas, o ineditismo.

Mundo, vasto mundo, manutenção de grandes espaços.

Tirem as mãos peludas da imensidão. O cerrado é nosso.

Vontade da maioria apartada de decisão política?

Sigla medonha. Embute interesse escuso.

Poder público + especulação imobiliária = insanidade.

Caldo de cultura para o desastre.

Nós, tu e eu, não somos iguais aos outros.

Patrimônio Cultural da Humanidade. A primeira do século XX. Estão prestes a rasgar teu diploma. 

Arranha-céus. Não. Adensamento. Não.

Invadir o Paque dos Pássaros. Nunca. Uso múltiplo em quadras residenciais. Não toquem no espaço das crianças.

Te modernizar? Falácia.

Reflexo distorcido. Nome real do monstrengo.

Lotes comerciais em áreas de clube. Jamais.

A força da grana que ergue e destrói coisas belas

Xô PPCUB. Indecência.

Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília.

Conluio de poderosos.

Socorro! Estão me agredindo.

Minha alma chora.

Reajam! Por mim, por vocês, por seus filhos, pela qualidade de vida.

Laerte Rimoli é jornalista

Crédito: Laerte Rimoli

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