Fazenda do século XVIII na Zona Oeste pode ser desapropriada

Publicado originalmente no Diário do Rio, a notícia de que a Fazenda da Taquara, na Zona Oeste do Rio, corre o risco de ser desapropriada pela Prefeitura. A proposta ainda é cercada de mistério, não detalha o processo e preocupa os responsáveis pela propriedade, herdeiros do Barão e da Baronesa da Taquara, vizinhos e defensores do patrimônio. Pelo que se sabe até então é que a  ideia do Poder Público é transformar o espaço em um parque aberto para visitações.

Urbe Carioca

Fazenda do século XVIII na Taquara pode ser desapropriada; situação preocupa defensores do patrimônio histórico

De acordo com a Prefeitura, a ideia é fazer um parque pago para a visitação. Pessoas ligadas às causas do patrimônio histórico alertam que o processo de desapropriação corre em sigilo, sem detalhes, e que a ideia da Prefeitura pode colocar em risco a preservação do lugar


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O senhor Francisco tem 98 anos de idade e desde sempre mantém a Fazenda da Taquara preservada. O local, que fica na Rua Rodrigues Caldas, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, em uma área urbana, guarda lembranças físicas dos séculos XVII e XVIII. Atualmente, os responsáveis pela propriedade são herdeiros do Barão e da Baronesa da Taquara, que moram lá. Contudo, um projeto da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro vem preocupando a família, moradores vizinhos e defensores do patrimônio histórico. A ideia do Poder Público é desapropriar o espaço e transformá-lo em um parque aberto para visitações.

Marconi Andrade, atuante defensor do patrimônio histórico do Rio de Janeiro, questiona o sigilo que cerca o projeto de desapropriação da Fazenda da Taquara. “Não se sabe muito sobre a proposta. Quando buscamos pelo processo, não achamos muitas informações”, conta Marconi, que enviou as fotos abaixo, oriundas de suas pesquisas.

O que se sabe, até o momento, é que a Prefeitura pretende fazer um parque privado, cobrando entrada para que as pessoas conheçam o interior da fazenda, como já citado, preservado, com a arquitetura do século XVIII, que tinha um engenho do século anterior.

Recentemente, a subprefeita de Jacarepaguá, Talita Galhardo e o secretário de fazenda Pedro Paulo, estiveram nas proximidades da Fazenda da Taquara e conversaram com vizinhos para explicar a ideia. No geral, os moradores não gostaram da ideia, pois temem a movimentação excessiva na área residencial. Uma nova reunião, que já estava marcada, foi desmarcada.

“Nesse encontro com a vizinhança não tinha ninguém representando a Fazenda, ninguém da família. E o que as pessoas temem é que com o fluxo maior de pessoas, a região fique mais violenta, que problemas de fora venham para cá. Além, é claro, do receio de que o patrimônio histórico seja depredado com o tempo, como acontece com várias instalações na Colônia Juliano Moreira, bem próximo da Fazenda Taquara, que estão caindo aos pedaços”, pontua Marcos André, que trabalha na Fazenda da Taquara há 25 anos. Marcos, criado na Fazenda junto com sua família, é historiador, restaurador e conservador da sede.

Após a posição contrária dos vizinhos ao projeto da Prefeitura, o que surpreendeu a família herdeira da Fazenda, Francisco decidiu abrir o espaço para que mais gente visitasse e conhecesse. Normalmente, a Fazenda é aberta ao público uma vez por ano, em setembro, para uma missa na capelinha.

A subprefeita de Jacarepaguá, Talita Galhardo, chegou a ir à Fazenda da Taquara e foi recebida com flores por Seu Francisco, que se mostra um senhor bem ativo, sempre presente na Fazenda.

“Muita gente não entende, mas quando o bem é tombado, o Poder Público não faz mais nada. O responsável pelo imóvel é quem tem que cuidar. E a família do Seu Francisco, tendo ele como maior defensor desse lugar, são as pessoas que estão cuidando disso tudo há tempos“, reforça Marcos.

Segundo defensores do patrimônio histórico, uma das alegações para que o espaço seja desapropriado e aberto ao público é que precisa receber passeios de crianças de escolas públicas e privadas. “Isso nós já fazemos, mas fazemos com fins pedagógicos. Não passeio só para passear. Uma vez, uma turma veio aqui e falamos sobre a importância do bem histórico. Depois, alguém foi jogar lixo no chão e um menino dessa mesma turma deu uma bronca, dizendo que não podia jogar lixo assim em um patrimônio histórico”, disse Marcos, que completou afirmando que vê fins eleitoreiros na proposta da Prefeitura e que acredita que o melhor para o local é continuar com a família de Francisco.

Procuradas, a Prefeitura e a Subprefeitura de Jacarepaguá ainda não responderam à reportagem do Diário do Rio.

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