Uma imagem que contrasta a beleza de um frontão neoclássico e o abandono que se arrasta há anos. Assim pode ser descrita a situação do prédio que abrigava a antiga sede do Automóvel Club do Brasil, na Rua do Passeio, no Centro do Rio.
Inaugurado em 1860 com um baile ao qual compareceu Dom Pedro II, o prédio já foi residência do Barão de Barbacena e sede da Sociedade de Baile Assembleia Fluminense, da Sociedade Cassino Fluminense e do Automóvel Clube no Brasil, além de palco para o último discurso do então presidente João Goulart antes do golpe de 1964. Tombado peloInstituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), o imóvel de três andares abrigou o Bingo Imperial até 2003, antes de fechar as portas e abrir caminho para o abandono e a decadência.
Hoje, o edifício que carrega parte da história do Centro do Rio afoga-se na degradação. Conforme publicação do jornal “O Dia”, pela segunda vez este ano, não apareceu nenhum interessado no edital de concessão à iniciativa privada do edifício. Historiadores e arquitetos apontam a necessidade de ações emergenciais e do estabelecimento de um plano estratégico imediato “antes que este Palácio se transforme em cinzas”.
Urbe CaRioca
Prédio histórico do antigo Automóvel Clube está abandonado
Pela segunda vez este ano, não apareceu nenhum interessado no edital de concessão à iniciativa privada do edifício do antigo Automóvel Clube do Brasil, no Centro. O certame deveria ter ocorrido na última quarta-feira. A primeira tentativa aconteceu em janeiro deste ano. Erguido em 1854, o imóvel – que é tombado desde 1965 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) – pertence à prefeitura. Enquanto não há solução para o destino do prédio, ele está se deteriorando. Há rachaduras, paredes sem rebocos, vidros quebrados e parte do assoalho arrancada.
De acordo com o edital publicado pela prefeitura, estava prevista a concessão de gestão e exploração do imóvel pelo prazo de 25 anos, com a obrigação do interessado fazer a modernização das edificações existentes. Além disso, seria cobrado pelo município aluguel de R$ 37 mil mensais.
Para Sheila Castelo, fundadora da página S.O.S Patrimônio em uma rede social, as condições impostas pela prefeitura no edital de concessão torna a proposta inverossímil.”Essa situação de abandono é o reflexo da falta de planejamento das autoridades. Não vejo vontade política em resolver o problema”.
Em 2016, a prefeitura também decidiu abrir um chamamento público em busca de interessados em assumir o imóvel. O Automóvel Clube do Brasil (de São Paulo) foi o único interessado. A concessão, porém, não foi adiante. Fechado há 15 anos, o edifício de três andares chegou a ser invadido, em setembro do ano passado. A proposta era de implantar, no interior do casarão, um museu do automobilismo.
Restauração
“Uma solução rápida e emergencial tem que ser dada, antes que este Palácio se transforme em cinzas. Tenho um projeto para resgatar o prédio e instalar lá o Museu do Rodoviarismo e Automobilismo”, argumentou a arquiteta Elizabeth Parkinson.
Claudio Prado, diretor do Inepac, avalia o custo da restauração em torno de R$12 milhões. “É um prédio criado para ser um salão de bailes, lindíssimo porém muito específico, com pé-direito muito alto, o que dificulta o seu uso para fins comerciais, já que não se pode fazer grandes alterações por ser um bem tombado pelo Inepac”, comentou.
O arquiteto e historiador Nireu Cavalcanti lembra que o edifício é uma das principais construções em estilo neoclássico da cidade. Segundo ele, o espaço era frequentado pela elite do Império.
“O edifício foi projetado pelo arquiteto Araújo Porto Alegre. Era um lugar que reunia a elite e os intelectuais. Na minha opinião, o edifico deveria ser dado em comodato à UFRJ, que tem ali próximo a sua Escola de Música”, sugeriu Cavalcanti.
Por mais de três décadas, o edifício na Rua do Passeio abrigou o Automóvel Clube. Em 1996, por motivos financeiros, o imóvel foi alugado para a instalação do Bingo Imperial. O prédio foi leiloado no ano de 2003 sendo arrematado pelo município. Desde 2004, encontra-se fechado. A Secretaria Municipal de Fazenda informou que permanecerá em busca de um parceiro privado para investir, recuperar e ocupar o prédio. Não há data para nova licitação.