No último mês, durante audiência pública com membros da Comissão Especial do Plano Diretor da Câmara dos Vereadores na sede da Associação de Moradores e Amigos de Vargem Grande (Amavag), moradores da região demonstraram receio quanto à implantação do novo Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável do Rio de Janeiro que propõe o aumento do gabarito da região e construções em áreas de brejo e próximas ao Maciço da Pedra Branca.
A preocupação tem a sua justificativa, uma vez que caminham lado a lado situações antagônicas no desenrolar das ações, com a perspectiva de grandes projetos e possível especulação imobiliária de um lado e a notável falta de infraestrutura, saúde, transporte, educação e segurança de outro, e que, diga-se de passagem, configuram-se entre as principais demandas da localidade há muitos anos.
É sempre importante e providencial lembrar que o Plano Diretor de 2011, com o mote “Pra Olimpíada” , espalhou pela cidade novas benesses além das concedidas para hotéis e para construir na Região das Vargens por leis específicas, aumentando índices construtivos na Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Vargem Grande, Vargem Pequena e Camorim. Como já dizia o ditado, “Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça”
Urbe CaRioca
Moradores de Vargem Grande lutam contra implantação do novo Plano Diretor
População se reuniu com vereadores em audiência pública
Por Maíra Rubim — O Globo – 31.10.2022
No último dia 17, cerca de cem pessoas se reuniram na sede da Associação de Moradores e Amigos de Vargem Grande (Amavag) para um audiência pública com membros da Comissão Especial do Plano Diretor da Câmara dos Vereadores. Na ocasião, a população expressou sua preocupação com a implantação do novo Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável do Rio de Janeiro.
—A especulação imobiliária está de olho nas Vargens. Existem grandes projetos para a região, mas não temos infraestrutura, saúde, transporte, educação e segurança. Como pensar em aumentar a densidade demográfica? Esses projetos não têm estudos de impacto ambiental, social e de vizinhança. Além disso, nosso terreno alaga muito, e a área funciona como uma espécie de cisterna para toda a água que desce do Maciço da Pedra Branca —diz a moradora Elizabeth Alves Bezerra.
No encontro, um grupo ergueu uma faixa com os dizeres: “Contra o ecocídio nas Vargens”.
Os vereadores Tainá De Paula, Tarcísio Motta, Carlo Caiado, Jorge Felippe e Chagas Bola estiveram presentes, enquanto outros participaram de maneira remota, on-line.
Renato Rocha, presidente da Amavag, conta que os presentes, além de pedirem a revisão do Plano Diretor, aproveitaram para apresentar suas propostas e demandas para a região das Vargens.
— Queremos a manutenção do verde e das áreas alagadas, saneamento básico, ruas asfaltadas, iluminação pública, hortas comunitárias e que seja discutida a proposta do IPTU Verde para aqueles moradores que ajudam na manutenção do meio ambiente. Aqui são muitos lotes de terrenos, e o IPTU é muito alto — explica.
Rocha conta que o novo Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável do Rio de Janeiro propõe o aumento do gabarito da região e construções em áreas de brejo e próximas ao Maciço da Pedra Branca. Ele diz também que a população pede que seja discutida a titularidade da terra, já que a maioria dos imóveis é de terrenos de promessa de compra e venda, o que impede que agricultores consigam legalizar o seu negócio.
— Nossa região é um bioma muito importante para a cidade e ele corre o risco de ser destruído. Falam que podemos ser o novo Alphaville, mas não queremos isso, queremos o inverso. Não temos nem clínica de saúde, somente um posto, que é precário. O transporte público mal chega aqui, e as escolas não comportam o número de crianças do bairro. Não tem um colégio para o ensino médio, o mais próximo fica a 20 quilômetros daqui. As meninas param de estudar porque não há transporte ou segurança — lamenta.
A minuta do novo Plano Diretor, enviada pela Prefeitura em setembro do ano passado, é resultado de um processo de revisão iniciado em 2018. Em 2021, o debate envolveu 111 instituições inscritas em chamamento público, além de entidades convidadas, que se reuniram para discutir o tema. A Câmara Municipal criou uma comissão especial e realizou até o momento 25 audiências públicas de discussão.