Uma disputa silenciosa — mas feroz — tomou conta dos bastidores da política de urbanismo carioca. Em meio à aprovação da nova Lei dos Puxadinhos, uma única emenda conseguiu desagradar o prefeito Eduardo Paes a ponto de ser vetada: a autorização para construir um espigão de 30 andares em terreno originalmente reservado para escola ou creche, na Barra da Tijuca.
Proposta pelo veterano vereador Jorge Felippe, o “jabuti” causou confusão até entre aliados e reacendeu o debate sobre os limites da negociação política no Legislativo municipal. O veto, anunciado por Paes em um grupo de mensagens com vereadores, revela um jogo de forças onde até a minoria tem poder para mandar — e onde a pressão por aprovações compromete, mais uma vez, o planejamento urbano da cidade.
A desfaçatez do prefeito e dos vereadores é ilimitada. Mais-Valia, Mais-Valerá, Jardim de Alah, Buraco do Lume, Ninho das Águias. Reviver Ipanema e Leblon. Estúdios e mais estúdios – casas-de-abelha – depósitos de gente, reviver das quitinetes. Gabaritos e mais gabaritos permeiam o Plano Diretor vergonhoso.
O veto ao que seria mais uma barbaridade Urbano-carioca desvia a atenção do conjunto de ações prejudiciais ao Rio de Janeiro.
Urbe CaRioca
Paes veta construção de prédio de 30 andares onde estavam previstos escola e creche
Por Berenice Seara – Tempo Real
A emenda vetada pelo prefeito Eduardo Paes (PSD) à nova Lei dos Puxadinhos foi apresentada pelo ex-presidente da Câmara Jorge Felippe (PP) e liberava a construção de um prédio de apartamentos, com o gabarito de até 30 pavimentos, num terreno da Barra da Tijuca — que, segundo o alinhamento, estava destinado a abrigar escola ou creche. A área em questão fica próxima ao trecho do bairro conhecido como Associação Bosque Marapendi (AMB).
Paes sancionou, no Diário Oficial desta segunda-feira (2), a lei complementar 281/2025 — que estabelece condições especiais para o licenciamento de construções e ampliações irregulares (mediante pagamento à prefeitura, claro), numa nova versão de mais-valia e mais-valerá. O texto original, enviado à Câmara pelo executivo, recebeu 49 emendas aprovadas em plenário — e só uma foi vetada.
A proposta de Jorge Felippe já dera muita confusão entre os próprios vereadores, durante os debates sobre o projeto. O ex-presidente sempre defendeu a emenda com muita ênfase, mas os governistas estavam reticentes. O embate foi longo, e Felippe acabou conseguindo a aprovação.
Paes avisou sobre o veto em grupo de mensagens com os vereadores
O prefeito não engoliu e reclamou do “jabuti” — como são conhecidos, no jargão parlamentar, os enxertos fora de contexto em projetos de lei. Num grupo de mensagens com os parlamentares do seu PSD, Paes reclamou e avisou que iria vetar uma das propostas. O presidente da Câmara, Carlo Caiado (PSD), ainda lembrou que as emendas aprovadas tiveram o “sim” encaminhado na votação pelo líder do governo, Márcio Ribeiro, com o aval técnico dos representantes da prefeitura. Mas não adiantou.
“Provavelmente tivemos que ceder a algum vereador da minoria, para que ele não ousasse adiar o projeto. Minoria que tem poder de inviabilizar votações é minoria que manda. Infelizmente, é esse o modelo que se implantou na Câmara Municipal”, protestou Paes.
E continuou: “Não estou reclamando dos vereadores. Não tente me intrigar com eles. Estou reclamando de certas lideranças do processo. Vou demorar mais um tempo pra arrecadar com puxadinhos em razão do veto que vou fazer. E o Castro ontem ainda cantou vitória dele e do Bacellar na Câmara pra cima de mim. Estão vibrando lá. Mas o importante é ceder sempre pra aprovar.”