Pão de Açúcar: A Tirolesa e outros males

Protagonista do absurdo urbano-carioca em pauta, o projeto para implantação de mais um cabo aéreo entre o Pão de Açúcar e o morro da Urca no Rio de Janeiro – e instalação da chamada “Tirolesa”, onde pessoas dependuradas se deslocam de uma extremidade à outra – tem gerado grande polêmica entre arquitetos, urbanistas, montanhistas e moradores da região.

Com 755 metros de comprimento, o brinquedo que os concessionários do Caminho Aéreo Pão de Açúcar pretendem construir, caso se efetive atravessará não somente o percurso entre as duas montanhas, mas cruzará os limites de uma ocupação já por demais generosa diante do que existe no conjunto dos morros -, um dos maiores símbolos da Cidade ao lado do Corcovado – além de possivelmente causar degradação ao ambiente natural, preocupação dos segmentos mencionados. “A área construída já atende perfeitamente ao que foi definido e tombado. Não existe crescimento infinito, amanhã vão querer mais área sob qualquer argumento”, afirma o arquiteto Sérgio Alvim.

Um trecho das obras do pretenso projeto foi paralisado pela Prefeitura devido ao pedido de parecer técnico da Geo-Rio (órgão responsável pela gestão do risco geológico-geotécnico) feito pela Secretaria Municipal de Ambiente e Clima ao tomar conhecimento de perfurações na rocha.

A instalação da Tirolesa modificará a paisagem consolidada e trará alteração da visibilidade das instalações construídas no topo do morro, novas reduções no perfil rochoso com possíveis danos, e poderá interferir nas vias de escalada existentes no local há décadas, tudo, vale relembrar, no ambiente de uma unidade de proteção integral. A atividade é feita em alta velocidade e em declive acentuado: há quem aposte que as pessoas tendam descer gritando como nas montanhas russas, em contraste com o bondinho silencioso de onde saem apenas interjeições de admiração diante das vistas deslumbrantes.

A previsão é de que a “tirolesa” comece a funcionar no segundo semestre deste ano em um dos cartões postais mais famosos do mundo, o Pão de Açúcar, que – destaque-se (!) -, é tombado pelo Instituto Nacional de Patrimônio Histórico e Artístico – Iphan – desde 1973, e desde 2012 é reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco.

A efetivação deste descabido projeto ratifica o desmando e o descaso para com o patrimônio público, sob as inexplicáveis rubricas não somente da Prefeitura do Rio, mas também do Iphan, órgãos que concederam as autorizações necessárias para o andamento das ações.

É papel do poder público carrear os interesses e os recursos da iniciativa privada para locais adequados e de acordo com objetivos mais benéficos para a Cidade e para a sua população. Um bom exemplo foi o caso envolvendo interesses particulares, quando uma empresa pretendeu implantar uma Roda-Gigante na Enseada de Botafogo. O veto levou o  projeto a ser executado na região do Porto – área em desenvolvimento e com necessidade de investimentos e atrações que auxiliassem nessas demandas. Ao lado do AquaRio, criou-se um novo polo de atração, central, o que facilitou o acesso de moradores de todas as áreas da cidade.

Justificar o projeto de uma tirolesa como atrativo turístico é infundado e contraditório, pois o Pão de Açúcar, por si, já é um dos maiores ícones nesse segmento, que remete a imagem não só da Cidade, mas do país, internacionalmente. O brinquedinho, suas obras e perfurações não agregarão valor ao Pão de Açúcar. Por que não aproveitar o interesse dos empresários e induzir a instalação da tirolesa em outras áreas tão carentes de atenção, lazer e turismo, sobretudo nas regiões Norte e Oeste do Rio de Janeiro? Investimentos ali são aguardados há décadas.

Resta saber se o projeto de grande porte para a ampliação das construções – também pernicioso – passará ao largo, enquanto a polêmica sobre a tirolesa distrai a sociedade e a grande mídia.

Nota: Vale destacar os vídeos que circulam nas redes sociais com registros da malfadada obra no Morro do Pão de Açúcar, que mostram materiais e equipamentos utilizados na construção da tirolesa.

Diga NÃO à Tirolesa no Pão de Açúcar!

Abaixo-assinado

A instalação de uma multi-tirolesa (4 novos cabos de aço, a serem somados aos muitos já existentes), entre os morros do Pão de Açúcar e da Urca, começa a se concretizar sem que a população tenha informação suficiente, ou tenha sido consultada através de suas representações civis, a respeito desse impacto no monumento natural mais emblemático da cidade do Rio de Janeiro, seu mais famoso cartão-postal.

Será que esse aparato é, de fato, interessante para a cidade? Quem se beneficia desse projeto? Será que o número de turistas atraídos compensa o impacto ambiental na Unidade de Conservação? E o impacto na vizinhança, foi avaliado? A própria estrutura de transporte para o topo, comporta o impacto do público? Todas as consequências foram, de fato, avaliadas pelas instâncias públicas responsáveis? Afinal, estamos falando, relembramos, do monumento natural mais simbólico da cidade!

Os morros do Pão de Açúcar e da Urca, já foram vítimas de muitas outras propostas nocivas, como a iluminação com potentes holofotes na base da face oeste do Pão de Açúcar, feita pela CCAPA, que dizimou os insetos e outros animais noturnos, mas foi logo removida; a tentativa de uma empresa de instalar um gigantesco cometa de Natal iluminado, na face norte do Pão de Açúcar; ou, mais recentemente, a expansão do teleférico do Pão de Açúcar para o Morro do Leme ou para o Morro da Babilônia.

Não podemos deixar de questionar quem se beneficia de todas essas interferências num espaço que é patrimônio ambiental, cultural e histórico, não apenas da cidade do Rio de Janeiro, mas de todos os brasileiros.

tirolesa

  1. Ótima ideia essa da tirolesa – sqn! Podemos também colocar um McDonald’s na cabeça do Cristo Redentor! Já a despoluição da baía da Guanabara, fracasso desde os anos 80 do século passado, essa não interessa e pode esperar… É por causa de políticos como esses, que frequentam mais o noticiário policial que o político, que o estado do Rio, antes na vanguarda, está agora na rabeira da União

  2. Será que alguém vai descer o percurso de bico calado? Ou aos berros. O dia inteiro, imaginem os moradores das imediações com esta barulheira. Alguém já mediu o ruído das carretilhas em alta velocidade? Aquilo é uma concessão, não são donos. A ambição é desmedida. Como se fosse o único morro do Rio onde coubesse uma tirolesa. Por que os representantes do bairro não foram ouvidos? Chega de ganância!

  3. Fora toda a argumentação ecológica, eu que não andarei nisso se for feito. Tenho 82 mas nesmo se tivesse 40 diria: tou fora!

  4. Bom dia. Trabalho na agência de comunicação FSB e gostaria de enviar um posicionamento a vocês em nome da empresa responsável pelo parque e pelo desenvolvimento do projeto da tirolesa. Poderia, por gentileza, me enviar um e-mail ou telefone para que esse contato com pedido de direiro de resposta seja feito? O meu telefone é (21) 99481-1164.

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