BOTAFOGO – GABARITO COM FERMENTO

FUNDAÇÃO CASA DE RUI BARBOSA, BOTAFOGO, RIO DE JANEIRO
Ana Carolina Fernandes – 10.fev.2000/Folhapress
Ontem a imprensa trouxe uma boa notícia urbano-carioca*.



“Para abrigar mais de 200 mil títulos, além de correspondência, fotos e manuscritos importantes, como o da Primeira Constituinte Republicana de 1889, redigida pelo jurista e político Rui Barbosa, um prédio anexo será construído nos fundos do terreno, em Botafogo”


O Instituto de Arquitetos do Brasil IAB-RJ organizará um concurso de projeto para escolher o melhor. Certamente haverá propostas muito interessantes, bons arquitetos não nos faltam.


Um aspecto da matéria, porém, intriga: a informação de que o gabarito de altura da área é 18,00m e 5(cinco) andares.

Esses índices não se aplicam às construções não residenciais de uso exclusivo, que devem respeitar o máximo de 3 (três) andares de qualquer natureza. É um detalhe da Lei nº 434/83, restrição criada com a finalidade de frear a renovação urbana exacerbada nos bairros de Botafogo e Humaitá, em especial pela substituição dos prédios existentes e a ocupação de áreas vazias por edifícios comerciais e sedes de empresas que surgiam em função de um processo contínuo de migração do Centro da Cidade para os bairros próximos desde meados do século passado.

A mesma lei impede a construção de novas escolas nas ruas principais dos dois bairros, de hospitais em toda a região, e a ampliação de ambas as tipologias/usos quando existentes. Evitar a última é praticamente impossível… Basta andar pelas ruas para constatar.

Aquela lei urbanística foi uma das primeiras a ser elaborada com a participação da Associação de Moradores local, em um período de mudanças quando as vozes da população já se faziam ouvir.
Para saber se as imposições da Lei 434 surtiram o efeito desejado há que analisar as estatísticas dos últimos 30 anos.

Quanto aos edifícios residenciais, se não fosse aquele instrumento, o tombamento das mansões, e a criação da área de Proteção do Ambiente Cultural – APAC de Botafogo e Humaitá, hoje teríamos toda a região coberta de prédios com 24 pisos no total.

Quanto aos prédios comerciais e sedes administrativas serem limitados a 3 pisos, este foi o motivo para o prefeito ter enviado à Câmara de Vereadores o projeto de lei complementar especial para a BENESSE URBANÍSTICA A CAMINHO, que beneficiaria apenas um terreno/proprietário, felizmente retirado de pauta; e, provavelmente, porque não se tem notícia sobre o CASO DA FIRJAN, cujos desenhos divulgados mostram um prédio de 4 pisos.

Talvez seja a hora de avaliar os resultados da Lei 434/83 e revê-la, se for o caso, como um todo e não para um ou outro imóvel de alguma personalidade. Não parece que um centro de documentação possa ser ofensivo à urbe carioca, dependendo de seu porte e utilização, é claro, muito embora no caso específico da Casa de Rui Barbosa possa haver outro tipo de restrição de volumetria por ser o imóvel tombado.

Alguns fatos são irrefutáveis. Botafogo e Humaitá são bairros intransitáveis a qualquer hora do dia, ainda que servidos pelo Metrô em uma de suas extremidades – a Linha 4 verdadeira faz muita falta; o ambiente urbano é maltratado; o adensamento é contínuo, mesmo com a Lei 434/83 e a APAC. Até o governo estadual colaborou ao vender parte do terreno do 2º BPM para a construção de edifícios, em mais um ato lastimável.

Igual a grande parte do Rio de Janeiro, a IV Região Administrativa precisa de atenção e cuidados.

O Edital do concurso deveria observar tais questões para não se correr o risco de um belo projeto ser engavetado. E os arquitetos que participarão do concurso de projeto deveriam redobrar a atenção. 

Gabaritos não crescem com fermento.


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O Globo, 03/10/2013

*Para abrigar mais de 200 mil títulos, além de correspondência, fotos e manuscritos importantes, como o da Primeira Constituinte Republicana de 1889, redigida pelo jurista e político Rui Barbosa, um prédio anexo será construído nos fundos do terreno, em Botafogo. O projeto para o edifício que abrigará o Centro de Preservação de Bens Culturais da Casa de Rui Barbosa será escolhido por concurso, pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ).

  1. A tão já saturada Rua Assunção. Moradora daqui há sessenta anos, vejo com grande pesar, as casas sumindo e os prédios subindo. As casas onde conheci pessoas importantes na minha infância, hoje só de lembrança ou fotografias. E agora, mais essa. Ali, naquele espaço, derrubar-se-á quatro casas….e com certeza absoluta, árvores…as mesmas que o RUI tanto prezava. Não coaduno absolutamente com mais essa barbárie do menino maluquinho e sua "tchurma". Aquele final de rua estará dentro em pouco, um verdadeiro inferno. O que o Samaritano ainda não conseguiu comprar, agora a Casa do Rui derrubará. Teremos de um lado da rua, o esquerdo (da mão) Samaritano e o JECRIM e do outro lado….um prédio pequeno e o apêndice do RUI. É….tomara acabe um dia, as casas…..quem sabe assim, nos deixam em paz!!!!!

  2. Prezada Rosita,
    É uma ponderação importante. Talvez deva procurar saber se o Edital do concurso previu a preservação dessas árvores. Levar o caso à AMAB, saber a opinião de outros grupos interessados, e qual é a visão da Prefeitura, IPHAN, Conselho de Patrimônio do Município, Fundação Parques e Jardins. Obrigada pelo comentário.

  3. Como moradora de Botafogo, rua Barão de Lucena, só tenho a lamentar qualquer tipo de construção no bairro, seja a que propoósito for. Construção geralmente implica em derrubada de árvores, o que deverá acontecer nesse projeto, de vez que os "os fundos da Casa" é justamente onde se encontram as maiores e mais bonitas árvores do terreno, as quais tenho a felicidade de vè´las da janela do meu apartamento, Só tenho a lamentar.
    Rosita Rocha – cel 99139430 – rosita.mary@hotmail.com

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