DUAS PAULISTAS, DUAS VISÕES SOBRE O RIO DE JANEIRO

Rio de Janeiro, pôr-do-sol visto do Arpoador, em Ipanema.
Foto: Camila AGR

Os dois artigos sobre a Cidade do Rio de Janeiro, reproduzidos abaixo, foram publicados na grande imprensa recentemente. Um se contrapôs ao outro.

Em A vida é muito curta para falar mal do Rio, de Mônica Montone, no último dia 13, no jornal O Globo, a escritora paulista, claramente apaixonada pela urbe carioca, realizou o sonho de sua vida, mora no Rio, e é só elogios à cidade, “mesmo quando algum sobressalto (como um assalto) me acontece”.

O artigo foi escrito em contraponto ao anterior A vida é muito curta para morar no Rio, de Mariliz Pereira Jorge, publicado em 30/06/2016, no jornal Folha de São Paulo. Em suas próprias palavras a autora “era a paulista mais carioca que meus amigos conheciam”, mas, “Depois do primeiro mês, a lua de mel com a cidade acabou e eu me perguntava: como as pessoas moram aqui?”. A partir daí o texto mostra um conjunto de mazelas que assolam o Rio de Janeiro, salvando-se apenas “Uma paisagem espetacular” que se completa na mesma frase com o aposto “recheada de problemas escandalosos”.

E você, caro leitor, como é a Cidade Maravilhosa na sua visão?


Urbe CaRioca




Mariliz Pereira Jorge


Eu era a paulista mais carioca que meus amigos conheciam. Tinha a tal alma, roupas coloridas, conta na barraca do Leandro, no Posto 12, mesa cativa no Jobi, chamava os garçons pelo nome, tomava cerveja na calçada, banho de mar à noite no verão. Estava com uma mala sempre pronta, e a poltrona 8F no avião religiosamente reservada para ver lá de cima a cidade chegando.

A vida é muito curta para não morar no Rio, diziam. Eu ria, mas voltava feliz para o meu caos organizado em São Paulo, às segundas pela manhã. Até que uma proposta de trabalho me trouxe de mala e mudança. Depois do primeiro mês, a lua de mel com a cidade acabou e eu me perguntava: como as pessoas moram aqui?

(…)

Mônica Montone

Sempre considerei tola a rixa Rio x São Paulo, que, segundo Ruy Castro, em seu livro “O anjo pornográfico”, teve início nas redações dos jornais cariocas com a família Rodrigues. Acredito que as cidades dão aos seus habitantes o que deles recebem. As cidades, todas elas, são damas caprichosas, gostam de ser bem tratadas, bem amadas, admiradas. Gostam de ser cortejadas. Como diria Jorge Amado, “é preciso ter olhos de ver”, e não apenas enxergar, para merecer a beleza de uma cidade.

Todo grande centro urbano apresenta pobreza, desigualdade social, violência, sujeira, poluição, todo tipo de mazelas. Gente mal-educada, medíocre, incompetente, burra, burguesa e malandra tem em todo canto, e não é privilégio desta ou daquela cidade.

(…)


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