CrôniCaRioca
Foto: Camila A. G. R. |
A notícia:
“A municipalidade acaba de anunciar mais uma decisão em prol da Cidade do Rio de Janeiro: o Pão de Açúcar será demolido. Para compensar tal perda fica proibido construir no Recreio dos Bandeirantes. Os terrenos vazios do Recreio dos Bandeirantes serão transformados em praças, beneficiando toda a população carioca. Os proprietários desses terrenos, com baixo aproveitamento e em área pouco valorizada, também serão compensados. Poderão usar o potencial construtivo (isto é, os metros quadrados que poderiam construir em seus terrenos QUE AGORA SERÃO PRAÇAS) em outros lugares na Barra da Tijuca, em Jacarepaguá e em outras ruas do Recreio, que, para tanto, terão seus gabaritos de altura aumentados, a ATE também aumentada, e a área livre exigida no lote, diminuída. Por exemplo, em vez de construírem predinhos, restaurantezinhos e casinhas-de-chá, usarão esse potencial para construir edifícios grandes, shoppings, hotéis, etc.”.
Pergunta um atento ouvinte:
E o Pão de Açúcar? Onde ele está nessa história?
Responde a Municipalidade:
“O Pão de Açúcar tem problemas, as trilhas estão cheias de mato, o bondinho balança muito, o calor refletido na pedra aumenta a temperatura da cidade e, além de tudo, não há necessidade daquele mirante, o Rio de Janeiro tem muitos outros. Bem melhor do que aquela pedra sem-graça (não fará falta, a cidade tem muitas por aí!) será criada uma grande esplanada à beira-mar, em parte para construção de grandes edifícios de luxo com vista para a Baía de Guanabara, para o oceano e para Niterói. Na outra parte será construído um imenso campo para o mais um esporte popular que, após 80 anos, retornará aos Jogos Olímpicos 2028, evento internacional a ser mais uma vez realizado na Cidade Maravilhosa: o Pólo Equestre, ou Hockey com Cavalos”.
Guia da Semana |
Indaga novamente o ouvinte:
“O Rio de Janeiro tem Campo de Pólo no Itanhangá. O Pólo poderia ser disputado lá, e o Pão de Açúcar continuar onde está?”.
Esclarece a Municipalidade:
“Não, o campo do Itanhangá não atende aos padrões olímpicos. O campo para o Esporte dos Príncipes, ôpa, quero dizer, esporte popular, será no lugar do Pão de Açúcar, eu já disse! E o Recreio ganhará muitas praças com enormes benefícios para a população. Se o Carlos Sampaio demoliu o Morro do Castelo, por que eu não posso pôr abaixo o Sugar Loaf?”.
The End
E assim foi que o Pão de Açúcar desapareceu nesta fábula urbano-carioca que, com doses de bom-humor e realismo, encerra o ano de 2014 e explica que a implantação de um novo parque urbano à beira-mar, na Barra da Tijuca, o “Parque das Benesses” não guarda nenhuma relação com a perda de 450 hectares retirados do Parque Municipal Ecológico de Marapendi para a construção do Campo de Golfe Olímpico, como, mais uma vez, reportagem no jornal O Globo de 29/12/2014 quer fazer crer.
Agradecemos a todos os que nos acompanharam em mais um ano de atividades “urbano-cariocas”, aos amigos e colegas que enriqueceram o blog com ótimos artigos, e aos que comentaram e divulgaram as questões analisadas.
Com os votos de ótimo Ano Novo e o desejo de que a Cidade Maravilhosa fique mais humana, a assim, mais maravilhosa, a cada dia.
Feliz 2015!
Urbe CaRioca
Obrigada, Carla. Fico muito contente porque você gostou. Confesso que foi meio difícil e fiquei preocupada porque poderiam achar que um assunto nada tem a ver com o outro. Bem, concluí que é exatamente o que ocorre no caso do zgolfe e das justificativas apresentadas. Assim, decidi ir em frente! Ab.
Andrea, ainda não havia lido esta maravilha que não sei chamo de fabula irônica ou ironia fabulosa. Mais uma vez, parabens!
Prezado anônimo, o blog agradece! Pena não saber seu nome para agradecer diretamente! Ab.
Muito bom! A sorte desses sanguessugas da cidade é terem um povo tão bobo e desinteressado. Ainda bem que há blogs como esse para nos ajudar!!