… haverá necessidade de o Rio de Janeiro ter mais um estádio de futebol?
Google Maps, captura em 30/09/2016 |
Conforme notícia publicada no Globo Esporte há três dias, o presidente do Clube anunciou que “o Fluminense chegou a um acordo por um terreno, ao lado do Centro de Treinamento, na Barra da Tijuca, para a construção do futuro estádio” (Note-se que o CT fica em área do Centro Metropolitano, em Jacarepaguá, próximo ao limite com a Barra da Tijuca).
Disse também o Sr. Peter Siemsen (grifos nossos):
“O primeiro passo foi dado. Não adianta ficar eufórico e pensar que agora temos um estádio. Temos de trabalhar muito para chegar lá. Para quem trabalhou muito para ter o CT, com o nível e com a localização, acho que dá para confiar. O memorando significa o seguinte: o Fluminense tem uma obrigação, que precisa da parceria da prefeitura. Trabalhando junto, se muda a regra construtiva da localização e se constrói. Temos um contrato que nos dá tempo para isso, são 18 meses renováveis. A nossa ideia é começar o trabalho amanhã, ou assim que acabar a eleição municipal. Terminado isso, começa no dia seguinte para ter as mudanças necessárias…”.
O que interessa ao blog – do mesmo modo que no caso da Arena/Estádio do Clube Flamengo – é conhecer os aspectos urbanísticos envolvidos, os eventuais impactos sobre a paisagem urbana e ambientais, e incentivar discussões a respeito, se for o caso.
De imediato chama a atenção a frase destacada acima: Trabalhando junto, se muda a regra construtiva da localização e se constrói.
Ou seja, de antemão já se afirma que a norma urbanística vigente não permite a construção de um estádio do local escolhido!
Em segundo lugar, o trecho da reportagem – “-Lógico que tem de dar contrapartida. Tem de desenvolver projeto com a área pública para poder mudar a regra de construção. Acho que é bom para todos. A região que tem comunidades, tem canais assoreados… A construção do estádio passa pela melhoria da qualidade do entorno, dos canais. É um trabalho extenso e difícil. Envolve as pessoas. A região clama. Ela está na fronteira entre o novo que cresce e as comunidades.”(grifos nossos) – faz indagar como um estádio de futebol resolverá tantas carências, aspecto fundamental a ser esclarecido para que se conheça o custo-benefício de implantar um equipamento de grande porte ao lado do Centro de Treinamento, na Barra da Tijuca, em terreno com 60.000m², ou se a Prefeitura tem condições de resolver aquelas carências no escopo dos programas de governo.
O terreno do Centro de Treinamento – CT, inaugurado em 22/07/2016 ainda incompleto, foi doado pela Prefeitura. Em buscas na internet verificamos que em 2015 a Prefeitura também cedeu terrenos para CTs dos clubes de futebol Vasco e Botafogo, em Vargem Grande. Já o Clube Flamengo, entretanto, adquiriu o terreno do seu CT em 1984, o chamado Ninho do Urubu.
Nesse aspecto, uma curiosidade: se a Prefeitura tem colocado tantos imóveis Próprios Municipais e áreas públicas à venda, seja pela necessidade de fazer caixa ou simplesmente para se desfazer de imóveis que, em tese, são fonte de despesas, porque doar ou ceder tantos terrenos ao invés de também transformá-los em recursos públicos?
Talvez haja dinheiro sobrando…
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Voltando ao estádio para até 42 mil pessoas que o Fluminense pretende construir, cabe lembrar que o Estádio Olímpico João Havelange – o Engenhão, no bairro do Méier, – foi construído com capacidade para 45 mil pessoas e previsão de ampliação para 60 mil espectadores, ampliação essa que foi feita para a realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
Temos, portanto, um bom parâmetro para comparação, tanto sobre os reflexos na vizinhança desse tipo de equipamento, quanto sobre eventuais dificuldades de manutenção, considerando o recente histórico do Engenhão e do Maracanã.
Por outro lado, haverá necessidade de o Rio de Janeiro ter mais um estádio de futebol?
Com a palavra, os estudiosos, urbanistas, Instituto de Arquitetos do Brasil, Universidades, e quem mais se interessar pelo assunto.
Urbe CaRioca
Sou tricolor, não sou fanático mas acho, sim, que deveríamos ter estádio. O problema são os fanáticos, e nosso presidente é um deles. pois bem, estádio para 25.000 seria o ideal, gastando um pouco mais com toda infra estrutura ao entorno pois em dias de jogos o nosso torcedor poderia passar o dia alí. Quanto ao apoio ou vontade política, sabemos como funciona. Esses caras não estão nem aí para o RJ.
Portanto, acho perfeitamente possível e desejável, que cada grande clube do Rio tenha seu estádio próprio. E o caminho que o Fluminense esta fazendo é para justamente se igualar aos grandes clubes do mundo, que possuem estádio próprio. No Rio, apesar dos dois grandes estádios da Cidade – Maracanã e Engenhão – terem sido construídos pelo Poder Público, ele as vezes atrapalha mais do que ajuda. Se a preparação da Cidade para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 tivessem a participação dos clubes da Cidade, ao término dos eventos, cada clube grande teria ficado com o seu estádio, sem o risco dos elefantes brancos que se proliferam pelo país, ou das arenas desmontáveis (?), marca desta Olimpíada.
Hoje, com o processo de privatização do Maracanã caducado, os clubes estão na verdade buscando por conta própria a solução para os seus problemas, pois é fato que no universo do futebol, estádio "ganha" jogo de futebol, com a participação mais efetiva da torcida, ativação de programas sócio-torcedor, criação da atmosfera de "pressão" sobre o adversário, aumento de receitas por bilheteria, estacionamento, camarote, publicidade, etc.
É difícil prever o que vai acontecer com o Maracanã e os clubes do Rio, mas não seria ruim se o Engenhão (42.000 lugares) se consolidasse como Estadio do Botafogo FR, o Maracanã (69.000 lugares) fosse concessionado ao CR Flamengo, o Fluminense FC tivesse o apoio do Poder Público para erguer seu estádio na Barra ou em Laranjeiras para 41.000 lugares, e que até o CR Vasco da Gama fosse igualmente ajudado para reconstruir o estádio de São Januário (20.100 lugares), ajudando a reboque a revitalizar todo o entorno daquela região, hoje muito degradada.
Estádio de Futebol não é um trambolho urbano. Em muitas cidades do mundo ele é um equipamento ícone de um bairro ou de uma região, é integrado ao cotidiano da comunidade vizinha de forma positiva, é adorado pelos torcedores do clube como "local sagrado", e pode promover a revitalização de espaços urbanos antes degradados.
Isso ainda é possível no Rio.
Pena que a Cidade e os clubes perderam esta oportunidade com os dois eventos que promoveu…
Andrea,
Eu sou suspeito para comentar, pois além de torcedor do Flu, estou Conselheiro do Clube nas duas últimas gestões.
Mas digo tranquilamente, até como geógrafo, que há espaço para mais um estádio na Cidade.
Aliás, há espaço para vários, desde que haja, é claro, um Clube para utilizá-lo e dar vida a este estádio ao longo do ano.
Tome Londres como exemplo. Cidade Olímpica como o Rio. Lá existem vários estádios grandes, médios e pequenos dentro do perímetro urbano da Cidade.
Exemplos: Stanford Brigde, estádio do Chelsea FC, com 41.600 lugares e construído em 1877 (ampliado ao longo dos anos). White Hart Lane, estádio do Tottenham Hotspur FC, com 36.400 lugares e construído em 1899 (igualmente ampliado ao longo dos anos). Emirates Stadium, estádio do Arsenal FC, com 60.500 lugares, inaugurado em 2006, depois da demolição do antigo, Highbury, de 1913 e de menor capacidade, com apenas 38.400 lugares. Estádio Olímpico de Londres, com 60.000 lugares, passado ao West Han FC depois das Olimpíadas, e que com isso abandonou o antigo estádio, Upton Park, com 35.500 lugares.
Além destes, ainda há o templo-mor, Wembley, com seus 90.000 lugares.
Só ai já citei os 5 grandes estádios da Cidade
Além disso, há pelo menos uns 10 estádios de times menores, com capacidade entre 10 e 30 mil lugares, como o estádio de Selhurst Park (26.000 lugares) do Cristal Palace FC; Loftus Road (18.000 lugares), do Queen's Park Rangers FC; The Den (20.200 lugares), estádio do Millwall FC; Matchroom Stadium (11.000 lugares) do Leyton Orient FC; Craven Cottage (25.500 lugares) do Fullhan FC, um clássico estádio que lembra um pouco o Estádio das Laranjeiras, na Zona Sul do Rio.
Se formos a Buenos Aires, o exemplo é idêntico. Para cada clube portenho, um estádio próprio na região da Grande Buenos Aires. São pelo menos 6 grandes estádios. Monumental de Nunes (61.500 lugares), estádio do CA River Plate; La Bombonera (49.000 lugares), estádio do CA Boca Juniors; Estádio José Amalfitani (49.500 lugares) estádio do CA Velez Sarsfield; Estádio Juan Domingo Perón, o El Cilindro (51.200 lugares) pertencente ao Racing Club e o Estádio Libertadores da América (48.000 lugares), pertencente ao CA Independiente; Nuevo Gasômetro (40.000 lugares) do CA San Lorenzo.
Fora estes, outros 5 à 10 estádios de médio porte dos chamados times médios, como La Paternal (25.500 lugares), estádio do CA Argentinos Juniors, Sarandí (15.00 lugares), do CA Arsenal Argentina, além dos estádios do Huracán FC (21.000 lugares), do Belgramo AC (22.000 lugares) ou do New's old Boys FC (18.000 lugares).