Mães Cariocas, 2023 – Olhos, Olhar, Olhares

O texto a seguir é mais uma homenagem a todas as mães amorosas, e, em especial à minha, no espírito da série de crônicas que denominei “Mães Cariocas”, publicadas desde a criação do blog em abril de 2012, na semana em que se comemora o Dia das Mães.

Andréa Albuquerque G. Redondo

Olhos, Olhar, Olhares*

Os primeiros olhos que vi eram azuis. O olhar, de amor. Seus olhares me acompanharam ao longo da vida. Meigos, ora admiravam, repreendiam, consentiam, negavam, ora revelavam preocupação.

Olhares junto a palavras podem dizer mais que estas, ou mostrar o oposto da fala. No silêncio, eloquentes. Outros tantos marcaram minha infância e adolescência. Recebi lições através de olhos estranhos de todas as cores.

A lembrança mais antiga traz uma amiga dela em visita à nossa casa, tinha eu uns seis anos. Iam a um casamento. Eu queria ir. Não. Estatelada no chão, esperneei, chorei, gritei. Batia os pés quando, ao abrir os olhos, em vez de enxergar o teto encontrei um par de holofotes na direção dos meus. Disfarçavam o espanto em nome da amizade. A palavra não dita censurava. Senti vergonha. Nunca mais me joguei no chão.

Doze anos, férias escolares, houve um concurso de “twist” no Hotel Taquara. Eu dançava bem, diziam. Por vergonha, timidez, ou ambas, não me inscrevi. Durante a dança, uma amiguinha animada e desajeitada jogava braços e pernas para todo lado, em total descoordenação. Falei alto demais: “Fulana dança feio”. A mãe da menina, também amiga da minha, ouviu. Fuzilou-me com os olhos e disse com calma em nome da amizade: “Ela está dançando. Você, não”. Lição. Feio é desmerecer.

Mocinha, em raras saídas à noite voltava às 23 horas, uma ousadia! Sempre havia um ponto de luz vermelha na janela da sala. Era ela, no tempo em que fumava. Queria a primogênita a salvo. Sem ver, eu via que atrás da brasa de cigarro havia um par de olhos azuis que passara da preocupação ao alívio na fração de tempo entre ausência e chegada. Minha mãe não soube que eu testemunhava a vigília noturna. Despreocupada, logo se deitava fingindo dormir. Nenhuma teria vergonha por vigiar e ser vigiada. Controle ou cuidado? Importava ser amada.

O último olhar estava assustado. O duplo céu ainda límpido e claro logo ficaria nublado e escuro. Tenho saudades dos seus olhares. Guardo os amorosos e alegres, de um azul brilhante e profundo como o céu de outono no Rio de Janeiro.

Andréa de Almeida e Albuquerque,

sua filha

*Crônica escrita no escopo das atividades da Oficina Literária Eduardo Affonso.

Escultura de Dona Isabel – Boneca de barro do Vale do Jequitinhonha

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Mães Cariocas

  1. Minha querida Andréa, sua escrita é suave e gentil como sempre te vi. Me trouxe também lembranças doces de um tempo que ja se foi. Mães queridas. Um feliz dia pra você mamãe Andrea!

    1. Querida Angela,
      Feliz com o seu comentário. Muito obrigada! Bom ter trazido boas lembranças a você também Quanto à gentileza… um espelho seu. bj

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