O TÁXI, O MOTORISTA, A MALA, E O FINAL FELIZ – PARTE 2

CrôniCaRioca

“Há 40 minutos esqueci uma mala de mão vermelha no chão de um táxi, na frente do banco do carona. Ele me trouxe do Hospital (X) até bairro (X). O táxi não é de cooperativa, é modelo SPIN, motorista é um homem jovem, talvez 45 anos, cabeça raspada, e, no papo, me disse que mora em São Cristóvão. Há documentos importantes dos quais preciso. Agradeço por toda ajuda.”


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PARTE 2 – PERDIDOS E ACHADOS DE VÁRIAS NATUREZAS



Com a ajuda da ala jovem da família, fomos às redes sociais via perfil, isto é, a página pessoal desta blogueira urbano-carioca, com a mensagem que abre esta crônica, divulgada também em grupos ligados ao assunto!
Em menos de uma hora o pedido já se espalhara. Amigos, Comunidades, Grupos de Bairros, Perdi/Achei, Moro em São Cristóvão, páginas de taxistas, rádios… A mobilização e o número de compartilhamentos surpreenderam, pelo que sou imensamente agradecida.

“_Você não viu a placa do táxi? Gosto de anotar!”; “­No painel tem sempre uma identificação”; “Mesmo sem ser de cooperativa eles trabalham com aplicativo, devia ter um adesivo  Há 40 minutos esqueci uma mala de mão vermelha no chão de um táxi, na frente do banco do carona. Ele me trouxe do Hospital Samaritano até o Leblon (peguei o táxi na Rua Assunção).
O táxi não é de cooperativa modelo SPIN, motorista é um homem jovem talvez 45 anos, cabeça raspada, e, no papo, me disse que mora em São Cristóvão.
Há documentos importantes dos quais preciso.
Agradeço toda a ajuda.
no vidro”; “Tentou as câmeras de segurança da rua?”; “Se nada acontecer é melhor fazer um B.O.”; “A mala tinha identificação?”; “Tomara que ele seja uma pessoa do bem!”; “A mala logo vai aparecer!”; “Tenha fé!”.

Não, eu não notara nem anotara nada. A malinha, pelo que me lembrava, estava sem identificação. O setor de Segurança do hospital poderia ajudar, igualmente, só no dia seguinte.

Em uma comunidade de taxistas um deles escreveu: “Aparece aí, colega! Olha a reputação da classe!”.

Algumas horas depois, diminuído o ‘stress’, percebi que havia dado trabalho demais a muitas pessoas. Afinal, eram documentos dos quais eu conseguiria uma segunda via, roupas e remédios que poderia repor. Sim, o equipamento eletrônico faria falta, mas, ora, era apenas um eletrônico, um dia compraria outro.

Desde o início a preocupação era com a segurança, neste Rio de Janeiro que tem tanta gente boa, mas, infelizmente muitas nem tão boas assim. É o Rio onde não se pode andar na rua com cordõezinhos de ouro, relógio de melhor qualidade, onde quem anda de carro mantém as janelas fechadas por medo de assalto, onde os pedestres caminham atentos, edifícios e casas têm grades e câmeras de segurança, e ruas instalam cancelas! Um Rio de fuzis e balas perdidas, um Rio real, triste e perigoso que não se pode ignorar!

Era isso! Os bens materiais estavam em segundo plano! Rezei para que o motorista fosse “do bem”. Até meia-noite não aparecera.


No dia seguinte, saindo de casa para comprar os remédios, o telefone fixo tocou e voltei de má-vontade, certa de que era mais uma das insuportáveis propagandas que incomodam tantas vezes ao dia.

“_Alô.”
“_Bom dia. D. Andréa?”
“_Sim, bom dia.”
“_Aqui é o Wellington, o motorista que deixou a senhora em casa ontem.”

Quase caí sentada!

“_Que bom ouvir o senhor, senhor Wellington!”
“_A senhora me desculpe, depois que saí peguei uma corrida para o Centro, outra para o Grajaú e só vi a sua mala quando estava saindo de lá. Cheguei em casa tarde e, como ouvi a senhora conversando no telefone dizendo que estava muito cansada, não quis telefonar para não acordar ninguém, pois a senhora devia estar dormindo”.
“_ Muito obrigada, fico até emocionada… Como o Sr. encontrou o meu telefone?”
“_Achei uma etiqueta na mala com seu nome e telefone.”

Então havia uma identificação e eu nem me lembrava!

O Sr. Wellington era mesmo “do bem”. Trouxe a mala, batemos um papo, agradeci muito, paguei a corrida e acrescentei uma gratificação ‘para que ele comprasse uma lembrancinha para o filho’ que, então, soube que tinha.
Penso que não foi apenas a etiqueta. A rede social por certo contribuiu através de amigos de amigos de amigos de taxistas, das comunidades de taxistas e de São Cristóvão, dos grupos de bairros, mas, sobretudo, o que comandou o desfecho feliz foi a correção desse motorista de táxi que – não se preocupe o colega – não mancharia a imagem da classe!

O correto motorista que se identificou dirige com cuidado um SPIN amarelo, ouve a Rádio JB FM, e roda pelo Rio de Janeiro atendendo passageiros e turistas.

Quem disse que nossa urbe carioca não tem histórias com final feliz para contar?

Bons passeios!

Andréa Redondo


  1. Caro Luiz Fernando, de carros nada entendo, só de dirigir! Em tempos de Uber preto, Uber X (qq cor) e as cooperativas de aeroportos com seus táxis brancos e azuis, quis mostrar que era o amarelinho mesmo, dos táxis tradicionais de rua. Depois do episódio descobri que muitos taxistas estão usando esse SPIN, da Chevrolet. Um abraço!

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