OS ARCOS DA LAPA, A PINTURA E A CAL

UtilitáRio

Em suas andanças e pesquisas na Urbe CaRioca o fotógrafo Guilherme Maia deparou-se com o trabalho noturno de operários que pintavam um dos símbolos da Cidade do Rio de Janeiro, os ARCOS DA LAPA, antes um aqueduto que foi “concluído em 1750 para trazer água das nascentes da Serra da Carioca para o Centro”, e “a partir de 1896 passou a servir de acesso à linha de bonde para o bairro de Santa Teresa” (Guia do Patrimônio Cultural Carioca).


Arcos da Lapa
Foto: Guilherme Maia, junho 2014

Instigado pela brancura que sobressaía, em rápida conversa com os operários soube que a luminosidade levada ao monumento pela pintura nova devia-se à caiação. Um dos pintores reclamou que a cal “ardia à beça!”.

O leitor do blog nos pergunta se a opção por caiar ao invés de pintar o antigo Aqueduto da Carioca tem relação com a preservação da construção que é patrimônio histórico e cultural tombado pelo Governo Federal em 1938.



Arcos da Lapa – Cartão Postal, 1925
Internet




Procuramos a arquiteta Vera Dias – responsável pela Gerência de Monumentos e Chafarizes – e autora do Blog Monumentos do Rio. É ela quem explica:


As construções feitas de pedra e cal somente podemos caiar. Apesar de sua durabilidade esse tipo de composição absorve muita água, tanto das chuvas como da percolação ascendente ou descendente.

Caso aplicássemos uma pintura selante a argamassa original ficaria com excesso de umidade e, ao longo do tempo, se desagregaria.

As construções do período colonial precisam manter suas características também na pintura.

A pintura com cal é muito difícil, por vários fatores: há o peso da brocha causado pelo excesso de água. A cal virgem com a água ferve e pode queimar a pele. A cor luminosa esgota a visão do trabalhador. São necessárias várias demãos. Os pintores devem trabalhar protegidos.

Pode ser complicado entender porque mantemos esse tipo de pintura, pois muitos consideram ser simplesmente uma medida de economia. Mas, não: a caiação é fundamental para as construções antigas, por isso precisamos explicar claramente porque utilizamos as técnicas, muitas vezes atribuída a uma simples exigência dos órgãos de patrimônio cultural.

Existe um conhecimento técnico que precisa ser divulgado, pois todos os prédios antigos seguem essa regra. Alguns recebem uma veladura de pasta de cal com corante. Nenhuma tinta atual – todas são impermeabilizantes – pode ser usada.

No caso dos Arcos da Lapa há um agravante: o piso de granito colocado em torno da construção provoca mais agressões ao monumento. Por ser revestimento impermeável todas as águas que inevitavelmente passam para o terreno sobem por percolação para as colunas. Se usada em vez da caiação a pintura selante vedaria a secagem da umidade e, por conseguinte, em pouco tempo a argamassa – de areia e cal – estaria desagregada.


Agradecemos a Guilherme Maia pela colaboração e pela fotografia enviada, e a Vera Dias pelas valiosas explicações, sem dúvida um UtilitáRio que deve ser divulgado.


Arcos da Lapa
Foto: r7 – 2009


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