RUA DA CONSTITUIÇÃO, PÉ-DE-MOLEQUE SOBRE PÉ-DE-MOLEQUE

Rua da Constituição, Centro, sexta-feira, dia 25/09/2015Foto: Marconi Andrade


Com base em notícias divulgadas por membros do S.O.S. Patrimônio – grupo social que tem realizado inúmeras ações em defesa do patrimônio cultural da Cidade do Rio de Janeiro e de outros municípios do Estado do Rio, além de divulgar iniciativas exitosas em diversas cidades brasileiras – pudemos publicar o artigo O PASSADO RESSURGE NO CAMINHO DO VLT, de Marcus Alves no dia 10/08/2015, que relatou a descoberta de antigo piso de pedras na Rua da Constituição, no Centro do Rio.

O texto teve  repercussão e alcance surpreendentes.

Em seguida, no dia 28 do mesmo mês, foi a vez de PÉS-DE-MOLEQUE AGORA NA PRAÇA XV, após depoimento de professoras do DHT – Departamento de História e Teoria da UFRJ Niuxa Drago, Maria Clara Amado, Helenita Bueno, Silvana Nicolli e Juliana Guerra que visitaram as obras nas imediações da Praça XV um pouco antes.
De volta à Rua da Constituição, arqueólogos descobriram uma rua ainda mais antiga abaixo da última descoberta, ou seja, são camadas de PÉ-DE-MOLEQUE SOBRE PÉ-DE-MOLEQUE.
Hoje, no momento em que divulgamos a belíssima imagem acima, talvez as duas camadas de piso pé-de-moleque encontradas na Rua da Constituição durante as obras para instalação do Veículo Leve sobre Trilhos – VLT não existam mais.
Infelizmente uma retroescavadeira estava prestes a arrancar tudo.
A foto tirada na última sexta-feira, dia 25/09, é de Marconi Andrade, também membro do citado grupo S.O.S. Patrimônio.

São fundamentais o pronunciamento das autoridades responsáveis pelo patrimônio histórico carioca e a ação da Prefeitura pela preservação dessa importante descoberta, caso ainda haja tempo.

NOTA

Comentário de Sheila Castello, uma das administradoras do S.O.S. Patrimônio: “De todos os achados arqueológicos recentes, talvez esse seja o que mais valorizo.Sofro por sua destruição. São dois pisos sobrepostos de pé-de-moleque na Rua da Constituição que mostram a evolução do tempo, a evolução urbana de forma didática. Observem que o piso mais antigo tem as pedras com tamanhos mais uniformes e com maior desgaste, pois vão ficando lisas e arredondadas. Será destruído!”
Urbe CaRioca

Rua da Constituição, Centro, Rio de Janeiro
Calçamento “pé-de-moleque”

Foto: Marcus Alves, 10/08/2015

  1. Com toda razão. Os entes responsáveis pela preservação do patrimônio cultural da Cidade deveriam fazer um registro acurado de toda essa pavimentação, com indicação de materiais, formas, técnicas construtivas e desenhos específicos em cada logradouro, com o levantamento gráfico e fotográfico, para digitalização e acesso a toda a sociedade carioca.
    Acredito que tais serviços estão sendo realizados pelos órgãos competentes da Cidade.

  2. Prezados amigos do S.O.S. PATRIMÔNIO.
    As obras do VLT no Centro do Rio de Janeiro, ao longo da Avenida Rio Branco e das ruas da Constituição e Sete de Setembro, nos revelaram vestígios arqueológicos que retratam um pouco do passado histórico da cidade, que este ano está completando 450 anos, quase meio século. O que está chamando a atenção dos mais curiosos ou estudiosos do assunto, após a descoberta dos trilhos de bondes, é o calçamento de pedra em pé de moleque, que na Rua da Constituição prolonga-se por quase toda a via. Porém, pelas últimas imagens registradas pelo amigo Marconi observa-se que a empreiteira contratada pela prefeitura já está na fase de concretagem do trecho dessa rua, soterrando-o de vez. Esse calçamento só será lembrado pelos transeuntes e curiosos pelos registros fotográficos.
    A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro já deveria ter sabido que importantes vestígios arqueológicos seriam encontrados ao longos das obras do VLT na área central da cidade. Aonde quer que se escave o passado tanto colonial quanto dos séculos XIX e XX virão à tona. Não há como negá-lo, não há como ignorá-lo. Marconi observou arqueólogos trabalhando no trecho da Rua da Constituição. Também os vi nessa rua e no trecho da Sete de Setembro. Mas, sinceramente falando, eles estão ali e acolá por força da legislação de patrimônio e de preservação dos sítios arqueológicos. Não acredito que vão comprometer o andamento das obras com relatórios ressaltando a importância de um estudo mais acurado e de preservação dos achados. Aliás, aqueles calçamentos de pé de moleque são considerados sítios arqueológicos. Portanto, pelo que conheço que deveriam ser melhor estudados e documentados antes de qualquer tomada de decisões. Ficam, porém, as manifestações de indignação quanto ao destino dado ao calçamento de pé de moleque, ou seja, a concretagem para dar passagem, brevemente, ao VLT.
    Faz-se necessário deixar bem claro que todos nós não somos contrários ao progresso, à vinda do VLT –este, por sinal, vem atender à demanda por transporte público no Centro do Rio -, todavia, que esse progresso viesse acompanhado de mais transparência, além de uma audiência pública acerca do que fazer com as descobertas arqueológicas aqui mencionadas. Nunca é demais lembrar que não estamos mais no tempo da Belle Époque Carioca ou do Bota-Abaixo, se preferir. A atual Carta Magna é bem esclarecida quanto à questão envolvendo o Patrimônio Cultural e o direito do exercício de cidadania. Obras de grande impacto não deveriam ser realizadas sem o acompanhamento de uma ampla discussão. Sem falar das constantes interferências no trânsito da cidade. Enfim, tudo isso mexe com os nossos brios. Não conseguimos ficar calados diante de interferências que comprometam a integridade física de prédios históricos ou que destruam sítios arqueológicos, tudo em nome do progresso e da Modernidade. Já vimos esse filme antes.

    Abraços,
    Professor Clarindo
    AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL
    amigosdopatrimonio@gmail.com

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