COMO REDUZIR A VIOLÊNCIA NO LEBLON, by Reclamilda

CrôniCaRioca

Caros amigos,

Oi, quem vos escreve é Reclamilda. Estava com saudades de bater um papo com vocês. Andei silenciosa, sei, quase escondida, pensativa… Aparecia de vez em quando só para trocar ideias com minhas melhores amigas, Elogilda e Ana Lisa, e tentar compreender esse estranho 2018 que passou.

Nunca vi tanta gente brigar por causa de política e campanha eleitoral.

Em uma família conhecida, no almoço de domingo a tiazinha se referiu ao “movimento de 1964” (Tofolli pode, eu posso) como Revolução – na sua época dizia-se assim. A sobrinha gritou: “Revolução, não! Golpe, Golpe!” E completou dizendo que a tia idosa era da KKK. A doce velhinha não entendeu nada, ainda bem. Meio surda, recém-chegada às redes sociais, emojis e abreviaturas, pensou que a sobrinha a achasse muito alegre e risonha. KKK! Adorou!

Quanta bobagem! Elogilda, Analisa e eu pensamos de modos diferentes e continuamos amigas. Raramente até concordamos!

Voltando à eleição. E os candidatos, hein? Cá pra nós, que pobreza. Como se dizia, ficamos entre a Cruz e a Caldeirinha, sem saída. Agora, nada de reclamar. No Rio, a cidade, desisti. O Prefeito ainda não disse a que veio, ou melhor, veio fazer nada além de prejudicar os aposentados. Já o novo Governador do Estado do Rio e o Presidente do Brasil serão implacáveis no combate à violência, afirmam.

Passeio pelo Leblon, um microcosmo dentro da Cidade Maravilhosa, e observo tudo. Os governadores anteriores – o que era e foi preso e o que substituiu este e também teve o mesmo destino … – anteciparam-se ao novo governador que prometeu sair atirando pra todo lado, em shopping e em comunidades. Criou a operação Leblon Presente: guardas simpáticos e educados andam de bicicleta pelas ruas do bairro atrás de suspeitos. Os bandidinhos, bandidões, pivetinhos e pivetões sumiram, se não de todo, bastante. O número de mendigos, moradores de rua e pedintes, curiosamente, aumentou. Parece que a saída dos primeiros abriu espaço para esses outros infelizes.

Conversei com uma velhinha, nova no pedaço. Mora na Zona Norte, fica aqui de favor na casa de uma amiga, pede dinheiro durante o dia, na rua. Vê-se que a pobre não tem alternativa, salvo se for uma tremenda artista. Outros são jovens velhos conhecidos. Vi garotos, hoje rapazes. Vi garotas, depois com barriga, nenéns no colo hoje crianças grandes. Devem ter alternativa, mas a mendicância é o ganha-pão. No final do dia pegam o ônibus e voltam para o lugar de onde vieram e de onde retornarão no dia seguinte. Não ameaçam. Constrangem.

Solução para a violência curiosa mesmo aconteceu há alguns anos em um micro- microcosmo deste mesmo Leblon, em rua onde os assaltos eram diários. Não digo o nome porque pega mal. Resolveram de um modo inusitado: trocaram de lugar o ponto de ônibus onde os bandidos se concentravam, a rua ficou ok. Já a outra – para onde o ponto foi transferido – e as vizinhas, viraram um “Deus nos Acuda”! Os gritos de “Pega ladrão!” semanais passaram a ser diários. Nos fins-de-semana, várias vezes a cada 24 horas. O sossego das ruas antes mais ou menos pacatas terminou.

Leblon, Rio de Janeiro, setembro 2017 – Crédito: Urbe CaRioca

Faz lembrar a ciência do ‘cobertor curto’, que quando cobre a cabeça, descobre os pés”. Dizem as más línguas que o ponto de ônibus foi trocado porque ficava em frente ao prédio de um figurão importante. Não sabemos, pode ser conversa de calçadas leblonenses esburacadas. Seja no subúrbio ou na Zona Sul, a “rádio local” da vizinhança atenta ainda é uma antiga tecnologia insuperável. Sempre ativa e veloz!

Os fatos: (1) a troca do ponto de ônibus fez a violência diminuir em uma rua e aumentar muito em várias outras; (2) o Leblon Presente afugentou os assaltantes, ao menos durante o dia; (3) o novo governador ainda não precisou atirar na cabeça de ninguém por aqui.

As opiniões: (1) eu, Reclamilda, não reclamo, apenas observo, questiono, e procuro ser justa; (2) Elogilda acha tudo maravilhoso, os bandidos que sumiram provavelmente se regeneraram, foram para a escola se qualificar e logo entrarão no mercado de trabalho para ganhar dinheiro honestamente, todos os governantes são ótimos, bem- intencionados e corretos, sejam de Direita, Centro, Esquerda, ou extremos; se muitos pontos de ônibus forem trocados a cidade vai ficar mais maravilhosa do que já é; (3) Ana Lisa quer saber para onde foram os bandidos que sumiram do Leblon, se vai ter Operação Bairro Presente em todos das Zonas Sul, Norte e Oeste, pergunta onde moram os simpáticos guardinhas, e quem vai proteger os moradores das comunidades, de bandidos; diz que o Leblon não representa o Rio de Janeiro e o Rio de Janeiro não representa o Brasil.

E os eleitos, hein? Cá prá nós… Tomara que dê certo. Afinal, o que nos resta além da tentativa?

Boa sorte, Rio.
Boa sorte, Brasil.

RECLAMILDA

 

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