Artigo publicado originalmente no O Globo Barra
O trânsito na Avenida Salvador Allende, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, próximo à Avenida das Américas, que já sofre com constantes engarrafamentos no seu dia a dia, pode se agravar com a surpreendente notícia da autorização da Prefeitura do Rio para a instalação de um grupamento de galpões “destinados à armazenagem não inflamável”, o que criará um tráfego de caminhões pesados em uma área residencial.
Região que teve um grande crescimento urbano em razão das Olimpíadas, principalmente, com a construção da Vila Olímpica — hoje o condomínio de luxo Ilha Pura —, pode ser drasticamente prejudicada tanto no âmbito de mobilidade urbana, quanto no ambiental, pois a autorização da construção do empreendimento é em uma área verde, que abriga espécies da flora e fauna silvestres, ameaçadas de extinção, agravando pelo trafego de grandes caminhões de carga.
O que mais chama atenção neste processo da Barralog Participações e Empreendimentos LTDA., é que os dois primeiros pareceres foram contrários à instalação dos galpões. “Dada a quantidade expressiva de espécies ameaçadas de extinção existentes no terreno pelo fatos discorridos, considero que o projeto em questão não é compatível com a área. Portanto, sugiro indeferimento do requerido”, assinava a engenheira florestal, Alice da Costa Esthal, nos dois documentos, com datas de 2021 e 2022.
Agora, passados dois anos de tentativa, o que chama atenção é um Laudo de Vistoria Técnica elaborado pela empresa Masterplan, de Luís Sorange, ser deliberado. O documento, com data de 13 de janeiro de 2023, foi assinado por uma comissão pertence à Prefeitura do Rio: Douglas da Silva Moraes do Nascimento (SMAC), Lucas Felipe Wosgrau Padilha (SMAC), Lucia Maria Pinto Vetter (SMDEIS) e Paulo Cesar da Silva (SMDEIS).
Como entender que, após duas negativas com argumentos perante a Lei, existiu a autorização para a construção dos galpões? Foram R$ 832.372,95 pagos à Prefeitura e que autorizam o corte de 747 árvores e a remoção de 7.850,00 m² de vegetação que, conforme documentos, não foi totalmente verificada. “Houve vistoria no local em 24/01/2023, realizada pelo biólogo Rodolfo Nunes, para verificação da vegetação e ocorrência de fauna, porém, não foi possível avançar muito no terreno devido ao adensamento da vegetação”, descreve o parecer técnico.
Essa implementação irá impactar e muito a região, que é cercada pela Lagoa de Jacarepaguá, o Rio do Marinho, outros rios, os morros tombados do Amorim e do Cantagalo e o Refúgio de Vida Silvestre dos Campos de Sernambetiba, unidade de conservação de regime integral. Além disso, pode existir possibilidade de contaminação do solo e do lençol freático. Já que, conforme as informações documentadas, a empresa precisará também de um aterro de 97.100,00 m³.
Trânsito
Outro fator a ser ressaltado é o grande problema já enfrentado pelos moradores daquela região: o tráfego de veículos. Com essa instalação, o fluxo de caminhões irá aumentar e muito em uma área recém-valorizada, com o condomínio Ilha Pura, Parque Olímpico e pelo seu acesso às praias e principais vias da cidade, entre elas: a Transolímpica, Avenida das Américas e Avenida Abelardo Bueno. O problema constante de engarrafamento existe e essa construção irá agravá-lo ainda mais.
Região
A localização a ser prejudicada com essa instalação foi montado um “cinturão verde”, onde órgãos ajudam na fiscalização como o 31º Batalhão da Polícia Militar, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) e futuras instalações pertencentes à Polícia Civil.
As Associações de Moradores estão se mobilizando contra a inusitada autorização da Prefeitura, que cria um centro logístico no bairro, que tem o maior IPTU da cidade. A Câmara Comunitária da Barra já tem uma agenda marcada com o Prefeito Eduardo Paes na sua sede e aproveitará o encontro para apresentar a sua posição contrária ao aumento do trafego de caminhões na Barra.