E A PALAVRA DO PERITO, EM TEMPOS DE “TUDO É PRA OLIMPÍADA“
Em 2005. |
A notícia estampada no Caderno de Esportes do jornal O Globo de hoje informa que “o trânsito de pessoas sobre a restinga e outras áreas proibidas ocorreu durante toda a disputa”. O título – nos entenderá o jornalista se tiver acompanhado o caso no Campo de Golfe desde o início – beira o ridículo: ‘Favor pisar apenas na área permitida’, reportagem para a qual não encontramos o link respectivo.
Outra notícia está no Jornal Folha de São Paulo: ‘Sem astros e público, evento-teste de golfe estreia campo da Rio-2016’. Mais completa, faz uma retrospectiva sobre as polêmicas que envolveram a obra, e não comenta os passos dados fora do gramado.
A partir do momento em que foram retirados do parque público, em processo de implantação, cerca de 450 ha, por força de decisões benevolentes do governo municipal em prol do mercado imobiliário, e dos tratores que arrancaram a vegetação – preservada e em franca recuperação conforme atestado por vários especialistas -, a preocupação com a parte ínfima que foi mantida perde a importância, uma vez tornada privada e longe dos olhos da cidade e de sua população.
A enorme parte do Parque Municipal Ecológico Marapendi que foi eliminada junto com trecho da Avenida Prefeito Dulcídio Cardoso, impedindo a continuidade daquela via Parque ao longo da margem norte da Lagoa de Marapendi, consiste em uma verdadeira mutilação da Barra da Tijuca do ponto de vista urbanístico e ambiental.
Não obstante, surpreende muitíssimo o laudo do perito acostado ao processo que tramita na Justiça, um conjunto de perguntas e respostas em favor da Prefeitura e, naturalmente, da obra.
Junto com as afirmações “tudo é pra olimpíada”, “eu odeio o campo de golfe”, “eu não queria fazer o campo de golfe”, “as obras recuperaram o meio ambiente que estava degradado”, “o campo trouxe benefícios ambientais” e o dossiê sobre o golfe apresentado pela Prefeitura à imprensa, compõe o conjunto de falácias e aspectos questionáveis que perpassaram todo o processo desde o concurso realizado pela municipalidade e organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB-Rio, sem que constasse do edital o desenho do parque projetado. Ao contrário, os mapas indicavam a localização do campo olímpico até à beira d’água, sobre a reserva, a faixa marginal de proteção da lagoa, e a avenida projetada.
Está feito. Inês é morta. A integridade do Parque também.
A quem interessar o laudo do perito – que é engenheiro agrônomo com especialização em Engenharia Sanitária e Ambiental, e concluiu que “o CGO representou ganho ambiental para o local”: v. LINK.
Este blog lamenta profundamente que desde o início do processo judicial tenha sido desconsiderada a importância da continuidade e integridade do Parque Municipal Ecológico Marapendi, e jamais tenha sido mencionada a previsão da Avenida Prefeito Dulcídio Cardoso como parte integrante do Sistema Viário da Barra da Tijuca e elemento físico para separação e proteção da reserva em relação às áreas particulares destinadas à ocupação urbana. Se esses aspectos houvessem sido considerados talvez o parque e a reserva ainda existissem em sua totalidade, uma avenida IMPORTANTE teria sido completada, e teríamos um campo de nove buracos. No caso da construção do campo de golfe as questões urbanísticas e ambientais estavam inteiramente vinculadas.
Os detentores do poder não olharam para a cidade. Olharam apenas para o terreno em si, como se as ruas laterais que limitam o hoje campo de 18 buracos, dito olímpico, fossem antolhos.
Afinal, que mal faz cortar a avenida?
Urbe CaRioca
NOTA: Ver também O CAMPO DE GOLFE DITO OLÍMPICO E A CORUJA-BURAQUEIRA