CrôniCaRioca
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“ Volta e meia me pego pensando: quando foi que decidi ser professora? Não sei. Acho que nunca. É, isso mesmo. Nunca DECIDI ser professora. Acho que apenas dei sentido profissional à minha maneira de perceber e atuar no mundo.
Hoje, não posso imaginar minha vida sem as quase 100 pequenas vidas que me rodeiam a cada ano letivo. As quase 100 pequenas vidas que usam e abusam da minha voz, da minha caneta vermelha, da minha vista (é cada letra!!!)… Mas que renovam minha energia a todo instante, com demonstrações espontâneas e preciosíssimas de carinho que só uma criança pode dar.
Meus amigos educadores, respondam: existe realização maior do que ouvir aquele AHHHHHHHHHHH de quem entendeu tudo o que você explicou?
Aos meus amigos educadores que me ajudaram a educar, um ‘muito obrigada’. Hoje o dia é nosso e a festa é na Cinelândia. E aos meus queridos (“só que não”, como dizem os alunos) governantes, eu lhes digo:
MEU TRABALHO ME GARANTE PELO MENOS UM ABRAÇO POR DIA. E O SEU? ”
Luciana Jabonsky Amaral
Em 15/10/2013, Dia do Mestre
Escolhi as palavras da professora Luciana para completar os posts da semana com uma homenagem aos professores, cujo dia foi comemorado na última terça-feira.
Tantos dias confusos e conturbados entre reivindicações e confrontos não diminuíram, ao contrário, reforçaram as declarações de respeito e admiração a todos os professores – eles, os mestres que são a base para todas as outras profissões. Milhares circularam pelas redes sociais.
A declaração de amor ao trabalho, da professora Luciana, certamente reflete o que se passa com todos os que abraçaram o trabalho de ensinar, tarefa nobre que exige enorme esforço e abnegação. Salários sabidamente baixos e muitos outros turnos preparando aulas e corrigindo provas… Realização em retorno.
D. Amélia já foi citada aqui no post EM SETEMBRO SOAM PALAVRASPLURAIS, uma CrôniCaRioca repleta de outras homenagens. A incansável professora de português não deveria ter sido a única. Tia Yara, D. Carmen, D. Gemini, D. Mirtes, D. Nair, e muitas outras das quais guardo as imagens, mas cujos nomes o tempo levou.
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O quadro que a professora Luciana encontrou no Dia do Mestre remeteu a uma história antiga com a professora de Matemática, D. Gemini, na década de 1960. Ela era tão doce e paciente que a turma abusava. Um dia, sem conseguir pôr ordem na sala, ao ouvir uma resposta grosseira não aguentou e saiu porta afora em prantos. Nossa turma caiu em si e ficou muda. Tarde demais.
Em meio ao assombro geral fiz uma proposta. Deveríamos pedir desculpas à D. Gemini. Ela era ótima pessoa, boa professora, e ainda por cima fazia com que entendêssemos a terrível matemática com a maior paciência do mundo!
_Como? Elas me perguntaram.
_Vou explicar. Vamos precisar de algum dinheiro…
Dois dias depois, quando D. Gemini entrou na sala quase caiu para trás. Além do silêncio respeitoso, um buquê de flores, uma lembrança singela, e o quadro-negro repleto de desenhos, assinaturas, declarações de carinho e pedidos de desculpas. Ela chorou de novo! Mas, de emoção. Ficamos durante três anos com a mesma professora de matemática, em paz, com amor e respeito!
As décadas que separam a professora Luciana de D. Gemini desaparecem sob a ótica da paciência e carinho para com seus alunos que unem os tempos, as duas, e milhares de outras. Junto a declaração da primeira e uma passagem da vida profissional da segunda para marcar o Dia do Mestre que, afinal, é todo dia!
Ah! Há os professores homens, é claro. Mas as educadoras mulheres marcam em especial a infância e a pré-adolescência, possivelmente devido ao paralelo feito inconscientemente com a relação materno-filial, em geral transferida para fora do ambiente doméstico pela primeira vez. Só por isso os mestres masculinos não foram citados hoje especificamente. Mais adiante, quem sabe?
Pena que não existiam celulares com câmeras fotográficas naquele tempo. Que importa? O quadro-negro florido e colorido feito para a doce professora de matemática ficou em lugar mais importante: a memória.
À D. Gemini,
À Luciana,
A todos os professores.
À D. Gemini,
À Luciana,
A todos os professores.
Lulu canta To Sir, With Love, do filme Ao Mestre, com Carinho
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