Botafogo revive polêmicas imobiliárias por causa de miniunidades

No mês de dezembro de 2018, este site publicou o artigo “Câmara de Vereadores aprova novo Código de Obras do Rio“, o qual destacava novamente a permissão de apartamentos tipo quitinetes que haviam sido banidos da legislação urbanística do Rio de Janeiro na década de 1970.

Embora possa haver pontos positivos a analisar, o assunto é sempre polêmico. A Associação de Moradores e Amigos de Botafogo (Amab), por exemplo, avalia  que as mudanças beneficiam apenas os empresários e prejudicarão os atuais moradores. “Em um bairro já saturado como o nosso, a infraestrutura não dá conta”, argumenta a presidente da Amab, Regina Chiaradia.

No último domingo, dia 2, o jornal “O Globo”, publicou uma reportagem sobre a questão, reproduzida a seguir.

Abaixo da reportagem, links para outras postagens neste espaço urbano-carioca a respeito.

Boa leitura.

Urbe CaRioca

 

Botafogo: Bairro revive polêmicas imobiliárias por causa de miniunidades

Moradores contestam construção de memorial no Morro do Pasmado, área de preservação ambiental

Raphaela Ribas – Globo – 02.02.2020

Nome veio do apelido a um artilheiro de um navio com grande poder de fogo que ganhou um grande lote de terras, hoje Botafogo Foto: Custodio Coimbra/22-05-2019

RIO — A ocupação de Botafogo e seu desenvolvimento como bairro sempre foram um tanto polêmicos. Começou quando a Corte concedeu uma extensa área a um militar português por serviços prestados e, mais tarde, um bispo corrupto se apoderou das terras. A enorme floresta deu início a fazendas de café no início do século XIX, as quais foram divididas, surgindo assim os cortiços.

— Com a abolição da escravidão, os investidores precisaram de novas formas de ganhar dinheiro; então, eles começaram a lotear essas fazendas em terrenos menores, construir ruas, o que atraiu a população — diz Antonio Augusto Brito, referindo-se ao surgimento dos cortiços. — O tipo de moradia tinha muitos problemas de saúde, devido às condições precárias de habitação e à quantidade massiva de moradores.

Entre as décadas de 1940 e 1950, Botafogo viveu outro momento semelhante com a explosão das quitinetes em prédios colossais.

Agora, com a valorização do metro quadrado, o bairro passa por um outro conflito: a volta dos miniapartamentos. É que ano passado foi aprovado um novo Código de Obras na cidade, que traz mais flexibilidade aos projetos, como os referentes a unidades a partir de 35 metros quadrados na Zona Sul. De um lado estão as construtoras que veem uma demanda para imóveis, principalmente por parte de jovens e novas configurações de família. São modelos com serviços completos na área comum, como lavanderia e coworking.

— Botafogo se transformou numa alternativa superadequada para uma geração de pessoas que quer comprar o primeiro imóvel. Tem tudo ao redor, clube, restaurante, serviço, escola, hospital e mobilidade urbana, e é central — diz Henrique Blecher, sócio e CEO da Bait Incorporadora, uma das construtoras que lançarão um novo empreendimento com unidades de dois e três quartos e também de quarto e sala no bairro.

Por outro lado, o sucesso do bairro e o interesse das incorporadoras são motivo de preocupação para moradores. Regina Chiaradia, presidente da Associação de Moradores e Amigos de Botafogo (Amab), acredita que as mudanças beneficiam apenas os empresários e vão acabar prejudicando os atuais moradores.

— Para nós, é péssimo. É um código que vem atender ao mercado, e não à população. Em um bairro já saturado como o nosso, a infraestrutura não dá conta — argumenta Regina.

Casa. Na esquina da Marquês de Abrante e Praia de Botafogo, a primeira casa do bairro, que décadas depois deu lugar a este imóvel Foto: Ana Branco / Agência O Globo

Para Brito, não são apenas a gama de serviços e as opções de lazer que atraem novos moradores. A valorização de imóveis em Botafogo, afirma, é resultado de um preço de metragem mais barato na comparação com outros bairros da Zona Sul.

— Botafogo tem uma característica urbana que é o limite de construção. A questão é que, assim como tem muito morador que reclama hoje do crescimento, há quem goste das mudanças — diz.

O escritor reforça uma outra polêmica envolvendo as terras do bairro: o caso do Mirante do Pasmado. Nos anos de chumbo da ditadura, um “processo de higienização” dos governantes removeu à força os moradores da favela urbanizada que havia ali, o primeiro incêndio programado em uma comunidade de que se tem notícia, segundo ele, e que abriu espaço para a especulação imobiliária do bairro.

— A discussão do momento é o projeto de construção de um memorial em homenagem às vítimas do Holocausto, em forma de um monólito de 20 metros de altura. A homenagem é ótima, mas não ali, que é um local de preservação ambiental — defende.

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