Aprovado nesta terça-feira, dia 17, pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) o projeto que tomba a Praça Mário Lago, mais conhecida como Buraco do Lume, no Centro do Rio. De acordo com a proposta, serão permitidas apenas a construção “e implantação de equipamentos destinados a atividades culturais, vedada qualquer outra destinação”. O governador terá 15 dias para sancionar ou vetar o projeto.
É importante lembrar que o tombamento não é panaceia para evitar barbaridades urbanísticas. Neste caso bastaria uma limitação administrativa nos termos das leis de uso e ocupação do solo. Dado ao riscos e às divergências entre gestores públicos, o tombamento surge como solução de emergência. O que em certos casos gera questionamentos, inclusive quanto à origem da iniciativa.
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Alerj aprova tombamento do Buraco do Lume: novas construções só para atividades culturais
Governador Wilson Witzel tem até 15 dias para sancionar ou vetar projeto de lei
Felipe Grinberg e Ludmilla de Lima – 17/03/2020 – O Globo
A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou nesta terça-feira um projeto que tomba a Praça Mário Lago, conhecida como Buraco do Lume, no Centro da cidade. Segundo a proposta só serão permitidas a construção “e implantação de equipamentos destinados a atividades culturais, vedada qualquer outra destinação”. O governador Wilson Witzel terá 15 dias para sancionar ou vetar o projeto.
Em 2019, o prefeito Marcelo Crivella mandou para o Legislativo um projeto que restaura os parâmetros urbanísticos que vigoraram antes de 1986, que permitem prédios de 20 andares ou mais no local. O deputado Eliomar Coelho, do PSOL, autor do projeto do tombamento, diz que o objetivo da proposta é proteger o Buraco do Lume, barrando qualquer tentativa de construção de prédios no local:
— A Praça Mário Lago, famoso Buraco do Lume, é um pulmão no Centro do Rio. Uma praça com circulação de vento e de vida, colorida com manifestações artísticas e políticas históricas e, ultimamente, até jogos de futebol de operários em hora de almoço são realizados no espaço democrático. O nosso objetivo é impedir que a especulação imobiliária, com autorização da prefeitura, suba mais um prédio nesse espaço tão importante para a vida da cidade.
Para o arquiteto e urbanista Pedro da Luz, professor da UFF e vice-presidente do Comitê do Congresso da UIA 2020 Rio, a praça foi “privatizada” por ambulantes e é preciso agora debater propostas para a sua ocupação.
— Existe uma tradição ali de exposição por políticos de suas lutas e pautas. Fora isso, o lugar não tem ocupação grande. Vale a pena penar agora na ressignificação dessa praça, que tem aspectos positivos, como arborização e um anfiteatro – afirma ele, acrescentando. – Nesse mundo de hoje, em que os políticos se expõem mais no Twitter do que numa praça, é importante a manutenção desse espaço como local de encontro. Podemos discutir atividades que reforcem esse perfil.
A origem do nome Buraco do Lume
Reduto tradicional da esquerda, o Buraco do Lume não tem esse apelido à toa. Na década de 1950, a empresa Lume Empresarial (o nome se refere às iniciais do empresário Linaldo Uchoa Medeiros) comprou imóveis no lado ímpar da Rua São José para erguer ali um espigão de mais de 20 andares que daria frente também para a Avenida Nilo Peçanha. Só que a empresa faliu, deixando na área, que já foi parte do Morro do Castelo, um grande buraco. O terreno escavado era para abrigar as fundações e garagem do prédio, mas a obra parou por aí. E os cariocas não perdoaram, batizando informalmente esse pedaço do Centro do Rio de Buraco do Lume.
Em 1970, o antigo Banco Estado da Guanabara comprou o terreno e vendeu algumas unidades do futuro edifício. Mas o projeto, mais uma vez, não foi para frente. Ainda nos anos de 1970, o lugar foi urbanizado e transformado em praça. O buraco foi transformado num lago com passarelas. A configuração atual é dos anos de 1990, quando perdeu o lago e os jardins.
Hoje o local funciona como anfiteatro, sendo palco semanal de políticos de esquerda – do PT e do PSOL, sobretudo -, que costumam ali prestar conta de seus mandatos. Nos anos de 1980, o ex-deputado Vladimir Palmeira discursava para a multidão na praça sobre um caixote. A praça já se chamou Melvin Jones, mas o nome foi trocado para Mário Lago no fim dos anos de 1990 com projeto do então vereador Eliomar Coelho.
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