O Metrô-Tripa, a Estação Gávea, e o Túnel do Tempo

Mais uma vez o governo estadual do momento anuncia a retomada de obras para a conclusão da Estação Gávea, a que era “pra olimpíada” e acabou abandonada e inundada. O prefeito da época é o mesmo. O presidente da época é o mesmo. O governador da época estava preso e já goza de liberdade. Quem sabe a conjunção inimaginável é um sinal de que a Linha 4 verdadeira, de Botafogo à Gávea via Humaitá e Jardim Botânico, será, finalmente, construída?

Urbe Carioca

 

Estado planeja retomar obras do metrô da Gávea após prazo de validade de inundação ter vencido

Estrutura de 55 metros de profundidade foi alagada em 2017 para garantir estabilidade da construção e evitar a corrosão

Por Luiz Ernesto Magalhães — O Globo – 04.01.2022

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Estação do metrô Gávea , Linha 4 – Foto – Fabiano Rocha / Agência O Globo

Reeleito, o governador Cláudio Castro anunciou em entrevista ao GLOBO no último domingo que costura uma saída jurídica para retomar e concluir ainda este semestre as obras da estação da Gávea da Linha 4 do metrô, que estão paradas desde 2015. A negociação é uma corrida contra o tempo. Isso porque a estrutura com 55 metros de profundidade na Zona Sul do Rio foi inundada entre o fim de 2017 e o início de 2018 para garantir a sua estabilidade e evitar a corrosão dos materiais. A estratégia tinha “prazo de validade”: cinco anos, de acordo com avaliação técnica feita na época.

Vencido esse tempo, a recomendação era drenar os 36 milhões de litros de água usados para encher o esqueleto da estação e fazer uma avaliação, para determinar se há risco de comprometimento estrutural que possa afetar imóveis vizinhos, como o campus da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ). Segundo especialistas, esse prazo já estourou, mas não há unanimidade sobre possíveis comprometimentos.

O que Castro tenta desenrolar no momento é uma decisão da 3ª Vara de Fazenda Pública que impede o estado de passar recursos para o Consórcio Construtor Rio Barra, responsável pela obra. A ação impetrada pelo Ministério Público identificou sobrepreço e superfaturamento de R$ 394,4 milhões na Linha 4, que liga Ipanema à Barra. Um trecho, que parece um desvio passando pela Gávea, não foi concluído.

— Em 2017, o estado estimou que precisava reavaliar as estruturas submersas em cinco anos. Só que, na época, a obra já estava parada havia dois anos, deteriorando-se. Na realidade, sem esvaziar o buraco, é impossível saber o real estado de conservação das estruturas. Nenhum mergulhador poderia fazer testes adequados no meio de toda aquela escuridão — ponderou o professor do Departamento de Engenharia Civil da PUC-RJ, Tácio Mauro Pereira de Campos.

Um projeto por água abaixo — Foto: Arte

Melhor opção: terminar

Em 2020, Campos coordenou um estudo apresentado ao estado mostrando que, caso o projeto não fosse concluído, seria necessário fazer reforços estruturais para afastar qualquer risco. O trabalho ressaltava, no entanto, que terminar a obra tinha o melhor custo-benefício.

O novo secretário estadual de Transportes e Mobilidade Urbana, Washington Reis, tem uma reunião amanhã com técnicos da Procuradoria Geral do Estado (PGE) para tentar achar uma solução, que passa por suspender a decisão judicial e obter recursos para fazer a obra. A pasta avalia que, neste momento, não há risco estrutural na estação.

Na gestão passada, algumas iniciativas não foram adiante. Em fevereiro de 2021, a estatal Rio Trilhos lançou um plano para concluir a obra bruta. Foi aberta uma licitação para contratar os estudos que detalhariam as técnicas de engenharia para estabilizar a estrutura, mas não surgiram interessados.

Antes, o então governador Wilson Witzel, que acabou sendo cassado, chegou a anunciar que não tinha interesse em concluir a estação. Assim, a saída seria aterrar o buraco, o que custaria R$ 30 milhões. Estimava-se que estabilizar a estrutura sairia por R$ 300 milhões, enquanto terminar o projeto com trens nos trilhos, R$ 1 bilhão.

Projetada para a Olimpíada de 2016 com seis estações (apenas a Gávea não ficou pronta), a Linha 4 do metrô custou mais de R$ 10 bilhões, segundo estimativas do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Em cinco decisões sucessivas, o TCE determinou que a obra da Gávea fosse finalizada, mas todas esbarraram no impasse jurídico.

— A Gávea é uma obra inacabada. Aquele buraco não foi feito para permanecer aberto infinitamente. Tem que haver uma solução para evitar os riscos para o entorno — disse Francis Bogossian, presidente da Academia Nacional de Engenharia.

Engenheiro especializado em geotécnica da Escola Politécnica da UFRJ, Maurício Ehrlich tem uma avaliação diferente das dos colegas.

— Esvaziar a estação só fará sentido quando as obras forem retomadas. Não vejo risco estrutural porque a própria pressão da água evita a entrada do oxigênio e consequentemente qualquer ameaça de corrosão.

Moradores preocupados

Procurado, o Rio Barra preferiu não se manifestar sobre uma possível retomada do projeto. Também não quis falar sobre riscos estruturais, mas relatórios feitos por peritos próprios negam que a demora para esvaziar o buraco e fazer a vistoria possa comprometer a integridade do projeto. O MP não comentou.

O presidente da Associação de Moradores da Gávea (Ama-Gávea), René Hasenclever, diz que concluir o projeto é fundamental, inclusive para os planos de ampliação do serviço a longo prazo. A estação da Gávea foi pensada para permitir uma expansão futura até Botafogo, passando pelo Humaitá e pelo Jardim Botânico.

— Essa é uma demanda do bairro. A gente está pedindo uma audiência com o governador para ter um posicionamento se a obra será mesmo retomada — disse.

Além de terminar a Linha 4, Castro anunciou ter outras prioridades na área da mobilidade. A lista inclui implantar uma linha de VLT na Baixada saindo da Pavuna, na Zona Norte do Rio, aproveitando o leito da empresa MRS, que tem concessão federal para transportar carga. Estão sendo planejadas ainda a ampliação da Via Light, entre Queimados e Nova Iguaçu, e a implantação de um sistema de monotrilhos de Niterói a São Gonçalo.

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