Ontem um leitor deste blog nos informou que o projeto para o VLT voltará à baila. Supusemos ser notícia antiga, pois a Prefeitura trouxe o assunto a público em 2022, e nada mais se ouviu a respeito.
Na ocasião, analisamos a proposta do ponto de vista prático para o atendimento à população carioca, com a qual, por óbvio, não concordamos, conforme argumentos apresentados.
Para surpresa, o trenzinho de brinquedo do Prefeito quer voltar, no lugar da devida e desejada Linha 4 (a verdadeira) do Metrô, substituída pela Linha 1 esticada por uma gambiarra à Linha 2, tudo “pra Olimpíada” conforme o alcaide apregoava em meio a mentiras por ele assumidas.
A seguir, nossas considerações a respeito, links para as postagens de 2022.
Urbe CaRioca
O recente anúncio do projeto do VLT Zona Sul, apresentado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, propõe um trajeto de 23 km entre a Cinelândia e a Gávea. O plano é apresentado com grande entusiasmo e inclui diversas fases, conforme ilustrações.
Contudo, o projeto desperta críticas legítimas, mote de diversas postagens neste blog, quando se observa que o traçado do VLT cobre justamente parte do traçado corresponde à Linha 4 do Metrô (a verdadeira), no trecho Botafogo-Gávea. Esta linha, planejada para ligar Botafogo à Gávea, foi inexplicavelmente descartada anos atrás em favor da extensão da Linha 1, numa decisão, à época, amplamente questionada por especialistas em mobilidade urbana.
O Metrô é, reconhecidamente, um modal mais eficiente, rápido e com maior capacidade de transporte do que o VLT. Ao optar por uma solução pretensamente eficiente, porém mais limitada, a Prefeitura traz mais um “remendo urbano”, a exemplo, tantos dos quais esta Cidade é alvo nos últimos anos.
A crítica central recai sobre a substituição de uma política de transporte de massa robusta por uma alternativa superficial em todos os sentidos. O VLT, embora útil em determinadas regiões e situações, não é capaz de atender à alta demanda de deslocamento na Zona Sul, permitindo a ligação com o Centro e a Zona Norte. Ao apostar nesse modal, a cidade repete erros, como a implantação de soluções paliativas – o BRT, por exemplo – que não acompanham o crescimento urbano nem oferecem integração real com outros sistemas de transporte.
Merece atenção o impacto urbano do projeto. O traçado do VLT exigirá adaptações viárias significativas em bairros saturados, como Botafogo, Jardim Botânico e o Humaitá, onde a circulação de veículos é intensa e os espaços públicos são limitados. A instalação de trilhos e estações, ainda que bem planejada, poderá agravar o congestionamento, especialmente em trechos próximos à Lagoa Rodrigo de Freitas e ao Parque Lage. É crucial que os estudos de impacto levem em consideração essas fragilidades e não apenas os aspectos técnicos e financeiros.
A decisão de ressuscitar o traçado da Linha 4 sob a forma de um VLT mais uma vez causa estranhamento, quando o desejado seria retomar e concluir o projeto estruturante como o Metrô — que já possuía embasamento técnico e apoio social. Infelizmente as autoridades optam por uma solução voltada à visibilidade imediata do que à resolução de problemas crônicos de mobilidade. Continuamos no círculo vicioso de projetos inacabados, substituídos por alternativas menos eficazes.
É necessário que a população e os órgãos de controle estejam atentos. O VLT Zona Sul não pode ser vendido como uma panaceia para os problemas de transporte da região. O debate precisa ser mais amplo, técnico e transparente. Se o objetivo é, de fato, melhorar a mobilidade e a qualidade de vida na cidade, o caminho passa pela retomada de uma política metropolitana de transporte que privilegie a eficiência, a integração e a sustentabilidade.
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