Este blog urbano-carioca cumpre o doloroso dever de informar a morte do Planejamento Urbano da Cidade do Rio de Janeiro, ocorrido ontem, dia 18 de junho de 2024, nesta mesma necrópole, digo, metrópole, em um belíssimo dia de outono com céu e mar de azuis perfeitos, como calmaria a anunciar a tempestade que cairia no final da tarde.
Antecedentes
O referido Planejamento Urbano – PU vinha adoentado há décadas, período em que recebeu alguns tratamentos, panaceias anunciadas como mais redentoras do que o Cristo que abraça o Rio do esplendor do Corcovado. Entre elas, o Plano Diretor de 2011 que serviu apenas para aumentar gabaritos justificados pelos Jogos Olímpicos, outras leis “pra Olimpíada” que nos surrupiaram recursos públicos e marcaram a paisagem com dezenas de edifícios residenciais e hotéis fora da altura máxima vigente – vários ainda vazios -, a lei do dito Reviver Centro, que fez explodir a construção civil em Botafogo, Copacabana, Ipanema e Leblon, enquanto o Centro continua “a ver navios” a partir da Orla Conde, a abrigar moradores de rua, e aguarda moradores para alguns prédios novos. Obs. nova tentativa para atrair vida, com foco na área cultural, é esperança. Esperamos que não faça parte do próximo obituário.
Causa da morte
O PU morreu de morte matada e não de morte morrida. Eutanásia decidida pelo Prefeito e seus vereadores, sem que o paciente pudesse reagir. A arma não precisou ser procurada. O crime foi realizado à luz do dia, isto é, à luz artificial do Plenário da Câmara de Vereadores e das câmeras de filmagens, vídeo e televisão. Arma branca. Canetas pretensamente ilustres aprovaram dois projetos de lei complementar. O primeiro para angariar receitas direcionadas ao Clube Vasco da Gama, que reformará o seu estádio de futebol. O segundo para permitir a construção de um autódromo em Guaratiba, no terreno que receberia a Jornada da Juventude e a chuva alagou.
Ironia das ironias
O prefeito que demoliu o autódromo do Rio – equipamento público construído com recursos públicos – construirá outro à custa de vender o chão e a paisagem da cidade, parte dos recursos angariados para salvar o clube do seu coração. O prefeito que aprovou o novo Plano Diretor em janeiro último sancionará as duas leis que contrariam e aviltam a principal lei urbanística da cidade.
Descendentes
A morte do Planejamento Urbano, e, consequentemente, de muitas qualidades que nossa combalida cidade ainda mantém, deixará milhões de cariocas incrédulos quando as consequências se fizerem visíveis, moldadas em concreto, ferro e tijolos, em adensamento, sombras, engarrafamentos e meios de transporte ainda mais sobrecarregados.
RIP, PU. RIP, RIO.
Com pesar, Urbe CaRioca