CrôniCaRioca
Sheila Castello é historiadora e apaixonada pelo Rio Comprido, bairro onde morou durante vinte anos. Esse tempo dobra ao somarmos histórias e memórias de sua família que lá viveu durante quatro décadas!
“Rio Comprido, década de 50, cruzamento Rua do Bispo com Av. Paulo de Frontin.”
Foto reproduzida do Arquivo da Cidade, postada por Isis Claro em rede social.
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Incansável na busca de melhorias para a região, neste artigo Sheila presta uma homenagem ao lugar outrora bucólico, sacrificado pela presença do Viaduto Engenheiro Freyssinet – o Elevado da Perimetral -, e aos muitos cariocas que igualmente participam de lutas diárias por mais qualidade urbana onde habitam.
Deoclécio Ferreira cuida, diariamente, das árvores que planta na Praça Condessa Paulo de Frontin. |
O texto, publicado originalmente em rede social no grupo Rio Comprido – Um Bairro de Presente, Passado e Futuro? é o depoimento de quem, nos anos 1970, brincava nas ruas quando estas ainda não eram perigosas, e vivenciou relações entre as diversas famílias, encontros determinados pelo “o grau de educação, respeito e dignidade”. Ao mesmo tempo é também uma homenagem aos que, entre várias reivindicações e ações em prol da comunidade, pedem a reabertura do Hospital Municipal Salles Neto.
As imagens mostram algumas das iniciativas importantes tomadas por moradores do Rio Comprido, no caso por Deoclécio Ferreira e Sandro Laureano.
Boa leitura.
Urbe CaRioca
Sandro Laureano nasceu no Rio Comprido e é referência do bairro pelo qual também é apaixonado. Em dezembro organiza eventos para as crianças e se transforma no Papai Noel do Rio Comprido. Nesta foto, Sheila Castello e Sandro Laureano exibem o brasão da RA estampado no ‘banner’ que este mandou confeccionar.
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RIO COMPRIDO, O BAIRRO QUE AMAMOS!
Parte 1
Sheila Castello
Ao homenagear o povo carioca, tomo como exemplo os moradores do bairro do Rio Comprido, população que já experimentou o luxo e o conforto, e hoje luta por sobrevivência, pela dignidade humana.
Pedro Nava dizia que os bairros tinham alma. O Rio Comprido manteve a sua, do típico malandro carioca. Eu afirmo: o berço do samba foi na boemia do Estácio, mas os sambistas dormiam em suas casas no Rio Comprido!
Cresci entre o morro e o asfalto. Naquela época, nos anos 1970, as únicas diferenças eram a conta bancária, a quantidade de degraus a vencer, e a temperatura do lugar.
Brincávamos todos juntos, estudávamos nas mesmas escolas públicas ou particulares, “tudo junto e misturado”, sem fronteira geográfica. O que determinava as relações das diversas famílias era o grau de educação, respeito e dignidade.
Tanto “lá embaixo”, quanto “lá em cima”, viviam trabalhadores: sapateiros, padeiros, professores, passadeira, sambista, joalheiro, advogado, taxista, médico, marceneiro, diarista, bombeiro, fotógrafo, empresário, pintor de rodapé e pintor artista, escritores, bancários, juízes, desembargadores…
Reencontrei a mesma natureza e a mesma alma nesse grupo, pessoas que se descobriram há 2 anos, a partir da luta para defender o Hospital Salles Netto e criaram o Rio Comprido – Um Bairro de Presente, Passado e Futuro?
São pessoas de poder aquisitivo variado, histórias de vida diferentes, profissões diferentes, que se encontraram e enfrentam toda a sorte de dificuldades, inclusive a delícia e a dor de trabalhar em conjunto: “aos trancos e barrancos” cresceram, criaram laços afetivos e se fortalecem nas batalhas que continuam a empreender.
ESSE É O RIO QUE EU AMO!