Uma crônica anglo-brasileira, de João Carlos Pacheco

O texto impecável do engenheiro e cronista João Carlos Pacheco provoca, nas entrelinhas, a pergunta que todo amante do idioma português faria. Se nosso idioma é belo, rico e soa bem, por que as propagandas do mercado imobiliário insistem em usar o inglês à exaustão? A possível ideia de aplicar um verniz de nobreza e alta categoria aos produtos resulta no avesso. Sugere que a falta de qualidades desejáveis – espaços amplos e confortáveis, boas ventilação e iluminação – precisa ser coberta de algum finesse, falso ou verdadeiro, não importa. Curiosamente, fosse nos United States of America, os marqueteiros bilíngues jamais apresentariam tais conjuntos como projects especiais. Lá, entre os termos usados para conjuntos de edificações, a expressão Housing Project é frequentemente usada para projetos de habitação social ou de grande escala. Sem glamour. Divirtam-se. Ou, melhor, have fun! Urbe(Leia mais)

Vendo o Rio: de novo

  Nosso, vosso prefeito fashion ataca outra vez. Em grande estilo apenas na quantidade. Mais de 300 imóveis municipais serão colocados à venda. Dinheiro que irá para o caixa aparentemente sem fundo, saco de filó – como dizia a avó –  que nada retém. Peneira a ser preenchida com impostos voadores porque dispensados, gabaritos voadores inexistentes que são atirados e se materializam na Zona Sul e na Barra da Tijuca, nesta, em especial, no trecho rebatizado de Sudoeste em busca de algum glamour e destaque dentro da Oeste tão maltratada. A lista é vasta. Em vários deles funcionam departamentos regionais de diversas Secretarias, que atendem a população vizinha mais próxima e dispensam o deslocamento até o Centro da cidade. Há mais barbaridades urbano-cariocas. O conjunto apresenta dezenas de “Lote x do PAL y”. Significa o lote (parte de uma área(Leia mais)

Da Granado ao glamour: casarões históricos ganham vida com o Mercado Central RJ

Excelente. Mais um exemplo do verdadeiro reviver, do que o Centro precisa. A Rua do Senado ganhou vida sem acréscimos de potencial construtivo e gabaritos lançados para Copacabana, Leblon, Ipanema, Jardim Botânico e Botafogo. Urbe CaRioca Rua do Senado ganha Mercado Central em antigos casarões da fábrica da Granado Diário do Rio – Link original O espaço surge como um novo polo gastronômico e cultural do Centro, apostando na ocupação contínua e no uso misto dos prédios restaurados Recentemente eleita pela revista Time Out como uma das vias mais cool do mundo, a Rua do Senado vive um bom momento no roteiro cultural do Centro do Rio. Entre a Lapa e a Praça Tiradentes, a área vem ganhando novos inquilinos que ajudam a sustentar o ‘hype’ do endereço, frequentado por um público fiel e que, aos fins de semana, ganha(Leia mais)

Aqui ninguém vai falar mal do Rio, mas…, de Joaquim Ferreira dos Santos

A crônica que este blog gostaria de ter escrito. Urbe CaRioca Aqui ninguém vai falar mal do Rio, mas… Tirem esses quiosques do caminho que eu quero passear com o meu amor Por Joaquim Ferreira dos Santos –  O Globo Link original A piada da semana foi o banheiro que alguém construiu ao lado de quiosques no mirante do Leblon. A prefeitura só descobriu quando ele, já ereto, todo pimpão, perfilava enfezado ao lado do Dois Irmãos e da Pedra da Gávea nos postais com o skyline da cidade. Botou-se abaixo o monstrengo sob o argumento de que era uma avacalhação com o cenário e, quando eu achei que iam aproveitar o ensejo para fazer o mesmo com os quiosques, eis que pararam o botabaixo. Boquiabri-me incrédulo. Quando vão perceber que a multidão de barracas e quiosques da orla cheira(Leia mais)

Metrô do Rio: as gambiarras continuam

Não bastando a Linha 1 espichada “pra Olimpíada” pelo prefeito Pinóquio junto com seus então aliados Sérgio Cabral e Lula pré-prisões (decisão perniciosa que gerou o aproveitamento de licitações proibidas e o inexplicável “bacalhau” na Estação General Osório), a Estação Gávea – que deveria ser ligada diretamente a Botafogo via Jardim Botânico e Humaitá), depois de parali$ada (= dinheiro público rasgado), volta à Berlinda. Podemos rebatizá-la de Estação Bumerangue. A reportagem de Luiz Ernesto Magalhães publicadano jornal O Globo esclarece porque o apelido faz sentido. Este blog pergunta se os passageiros serão corajosos o suficiente para entrar nos elevadores de alta velocidade com capacidade para 30 pessoas e percorrerem 52 m na vertical. Urbe CaRioca Metrô da Gávea: após remover água que encobria obra, estado retoma detonações para concluir estação Intervenções ainda devem levar três anos até que estação que(Leia mais)

Prefeitura do Rio: Entre a motosserra e o Compensômetro, de Sonia Rabello

Neste artigo, publicado originalmente no no site “A Sociedade em Busca do seu Direito”, a professora e jurista Sonia Rabello aborda a profunda contradição entre o discurso ambiental da Prefeitura do Rio e suas práticas recentes, destacando que embora o município divulgue com entusiasmo o novo programa de compensação ambiental — o chamado “Compensômetro” —, a medida soa mais como reação a uma longa série de decisões que provocaram danos significativos ao patrimônio natural e cultural da cidade. “Casos emblemáticos como os do Jardim de Alah, Parque do Flamengo, Pão de Açúcar, Gávea e Jacarepaguá revelam um padrão recorrente: autorizações de cortes de árvores e projetos de alto impacto aprovados sem diálogo público adequado, sem estudos de impacto e à revelia das proteções legais. Sustento que medidas compensatórias, embora importantes, não substituem a preservação real nem corrigem danos irreversíveis, especialmente(Leia mais)

Uma gota positiva no mar de barbaridades urbano-cariocas

A reação do prefeito Eduardo Paes diante de mais uma intervenção urbana que interfere na paisagem carioca expõe a tensão permanente entre interesses privados e a preservação do patrimônio visual do Rio. Após a polêmica das placas instaladas na Lagoa, Paes voltou às redes para denunciar e ordenar a demolição de um anexo construído em um quiosque no Mirante do Leblon — estrutura que bloqueava uma das vistas mais emblemáticas da cidade. A ofensiva do prefeito, marcada por tom indignado e promessa de ação imediata, recoloca no centro do debate a falta de transparência nos processos de autorização e o impacto de decisões administrativas que comprometem a relação histórica entre o Rio e seu conjunto urbanístico. Neste caso, os dois exemplos de filigranas, facilmente removíveis, foram oportunidades para o Chefe do Executivo apregoar, outra vez, sua (pseudo) eficiência para com(Leia mais)

Análise sobre o projeto denominado Porto Maravilha, de Raul Juste Lores

Foi uma grata surpresa assistir ao vídeo de Raul Juste Lores — no canal São Paulo nas Alturas  — o qual expõe, com precisão, os inúmeros problemas da região do Porto Maravilha do ponto de vista urbanístico. Tais dificuldades foram gestadas a partir de decisões equivocadas do governo municipal do Rio de Janeiro – Executivo e Legislativo – que, historicamente, priorizam áreas como a Barra da Tijuca e a Baixada de Jacarepaguá, em detrimento de tantos outros bairros carentes de infraestrutura e conservação, abandonados enquanto se incentiva a expansão urbana. No vídeo, Lores afirma que ninguém contestou esses equívocos durante a concepção dos projetos. Quanto a isso, cabe a este blog comentar: desde o início fomos críticos incansáveis das propostas apresentadas, infelizmente, concretizadas. São exemplos a localização prioritária dos equipamentos olímpicos e habitacionais na Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes(Leia mais)

Aprovação política vs. impasse jurídico: a nova batalha pelo Parque Olímpico

A aprovação, pela Câmara de Vereadores, do projeto que institui o Parque do Legado Olímpico não encerrou as disputas e debates sobre o futuro da área na Barra da Tijuca. Antes de o processo legislativo ser concluído, o Ministério Público apresentou nova manifestação na ação civil pública que discute a legalidade da Operação Urbana Consorciada. Para os promotores, a ausência de um Estudo de Impacto de Vizinhança — obrigatório, segundo o marco legal mais recente — inviabiliza qualquer avanço, mesmo diante da chancela política do Legislativo. O MP argumenta que antigos julgamentos e decisões não impedem a análise atual, especialmente porque o novo Plano Diretor, aprovado em 2024, reforça a exigência do EIV para operações urbanas consorciadas. Assim, enquanto o governo municipal comemora um suposto renascimento da área olímpica, a disputa técnica e jurídica permanece em aberto. Enquanto o debate(Leia mais)

A deterioração da experiência no Metrô do Rio

Neste artigo, o movimento “Metrô que o Rio precisa” destaca que a sensação de embarcar no metrô do Rio de Janeiro em 2025 é, para muitos cariocas, a constatação amarga de um declínio que parece ter se instalado sem resistência ao longo das últimas décadas. O sistema que um dia simbolizou modernidade, organização e eficiência transformou-se em um retrato fiel do abandono progressivo da cidade. Para quem viveu os anos 1990 — ou para quem deixou o Rio nessa época e retornou agora — o impacto é imediato: basta dar alguns passos rumo às estações para perceber que algo se perdeu no caminho. Não se trata apenas de nostalgia, mas de uma constatação objetiva de que a qualidade do serviço despencou enquanto a tarifa subiu ao patamar mais alto do mundo. O contraste entre o que o metrô representava e o(Leia mais)

Metros quadrados voadores, de Roberto Anderson

Em complemento ao comentário do arquiteto Canagé Vilhena, reproduzimos o artigo publicado originalmente no Diário do Rio, no qual o arquiteto e professor da PUC-RJ, Roberto Anderson, destaca que a proposta de transformar o antigo Campus Fidei, em Guaratiba, em autódromo, financiado por meio da venda de potencial construtivo, expõe um padrão já frequente na atual gestão municipal: o uso expansivo de mecanismos que deveriam ser excepcionais para viabilizar grandes empreendimentos privados. Ao deslocar milhões de metros quadrados para áreas valorizadas, a Prefeitura cria sobrecargas urbanas significativas e afasta o debate sobre planejamento territorial responsável. Esse movimento não ocorre isoladamente. Somado a outras operações recentes, ele esvazia a força normativa do Plano Diretor e converte a legislação urbanística em um sistema de exceções contínuas. O resultado é um cenário de insegurança jurídica e de prejuízo coletivo, que exige atenção imediata(Leia mais)