Reviver Centro: o que poderia ter sido

A Prefeitura do Rio lançou nesta terça-feira, editais para leiloar 15 prédios e um terreno no Centro Histórico, dentro do programa Reviver Centro Patrimônio Pró-Apac, com o objetivo de recuperar imóveis antigos e ampliar a moradia na região. Muitos desses edifícios estão deteriorados ou fechados, e quem os adquirir poderá receber subsídio de até R$ 3.212,00 por metro quadrado restaurado, condicionado ao avanço das obras. A expectativa é que, ao serem restauradas e convertidas principalmente em residências, essas unidades cumpram sua função social e contribuam para reativar cultural e economicamente áreas próximas a importantes marcos da Cidade, como a Praça Tiradentes, o Teatro João Caetano e o Real Gabinete Português de Leitura. A inicitaiva parece interessante, obviamente. Mas seria esse o caminhou ou haveria alternativas ? A Prefeitura concede bônus generosos para a indústria da construção civil e o mercado(Leia mais)

Mais Valerá: mais eufemismos do prefeito, novas ilegalidades

A Câmara do Rio se prepara para votar mais uma versão do “mais valerá”, projeto do Executivo que, sob o argumento de modernizar o uso do solo e incentivar investimentos privados, abre espaço para uma nova rodada de flexibilizações urbanísticas. A proposta permite que estacionamentos de shoppings, supermercados, hipermercados e hospitais sejam convertidos em empreendimentos residenciais ou comerciais, mediante contrapartida financeira à prefeitura. Na prática, trata-se de um modelo de “urbanismo negociado” — em que a cidade é adaptada não a partir de um planejamento integrado, mas de acordos pontuais que favorecem grandes grupos econômicos em troca de arrecadação. O “novo mais valerá” não é uma proposta isolada, mas parte de uma estratégia recorrente do governo Paes de usar o instrumento da outorga onerosa para reforçar o caixa municipal sem recorrer a aumentos de impostos. Estima-se uma arrecadação de R$ 300(Leia mais)

Do asfalto ao trilho: o Rio e o custo da reinvenção sem planejamento

O Rio de Janeiro volta a discutir o futuro de sua mobilidade urbana. A Câmara Municipal aprovou, em primeira discussão, o projeto que prevê a transformação dos corredores do BRT em linhas de VLT — uma proposta que reacende velhos debates sobre custo, eficiência e coerência no planejamento da cidade. A ideia é substituir os articulados que circulam nos eixos Transcarioca e Transoeste por composições sobre trilhos, reaproveitando o traçado existente, mas exigindo nova infraestrutura. A promessa é de conforto, menor emissão de poluentes e integração visual com o centro remodelado, mas o desafio é gigantesco: reconfigurar um sistema bilionário, ainda em colapso operacional, sem repetir erros do passado. Vale destacar que após terem feito uma obra dessa magnitude, quilômetro sobre quilômetro de BRT, compram ônibus caros, e agora simplesmente percebem que os mesmos não servem mais ? Causa perplexidade(Leia mais)

MPF pede paralisação das obras no Jardim de Alah

O Ministério Público Federal (MPF) pediu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) a suspensão imediata das obras no Jardim de Alah, área tombada que liga Ipanema ao Leblon e conecta o mar à Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio de Janeiro. O projeto, conduzido pela concessionária Rio Mais Verde, prevê a instalação de lojas, restaurantes, supermercado, anfiteatro e centenas de vagas de estacionamento, além da derrubada de 90 árvores — mudanças que, segundo o MPF, descaracterizam o patrimônio histórico e podem causar sérios danos ambientais. A ação reforça os questionamentos já apresentados pelo Ministério Público do Estado do Rio e pela Associação dos Moradores e Defensores do Jardim de Alah (AMDJA), que reuniu mais de 30 mil assinaturas contra a intervenção. Para os críticos, a concessão viola a Lei Orgânica do Município e ignora o tombamento definitivo(Leia mais)

Autoridades precisam sentir na pele o caos no transporte, por Andréa Redondo

Por Andréa Redondo – O Globo Link original Passageiros permanecem durante horas em ônibus lotados, ruidosos e abafados, no ‘Rio 40 graus’ de Fernanda Abreu No filme francês “Entre dois mundos”, a personagem interpretada por Juliette Binoche é escritora, fato de que o espectador ganha ciência no avançar da projeção. Para escrever sobre as dificuldades da classe trabalhadora francesa, decide viver sua realidade. Muda-se de Paris para uma cidade portuária e, sob nome falso, emprega-se como faxineira. O trabalho exaustivo intensifica-se quando passa a integrar a equipe noturna dedicada a limpar, em tempo exíguo, cabines da balsa que transporta passageiros entre a França e a Inglaterra. O livro a ser escrito exporá as condições precárias a que mulheres se submetem para sobreviver com parcos recursos vindos do trabalho honesto. O paralelo com a situação enfrentada por cariocas e fluminenses no(Leia mais)

Zona da Leopoldina: do desejo da classe média ao abandono, de Hugo Costa

Neste artigo, o geógrafo Hugo Costa destaca que a Zona da Leopoldina, que nos anos 1980 figurava como objeto de desejo da classe média carioca, é hoje um retrato vívido do abandono urbano. Naquele período, a região atraía investimentos privados e publicidade de peso — como o icônico comercial estrelado por Xuxa e Pelé, promovendo apartamentos com piscina, sauna e vista para a Igreja da Penha. Quase quatro décadas depois, a realidade mudou drasticamente: os imóveis se fecham, muitos são abandonados, e a população migrou para outras áreas da cidade, transformando a Leopoldina em uma espécie de “cidade fantasma” dentro da metrópole. O autor revela que essa transformação não ocorreu de forma isolada, mas refletiu décadas de políticas públicas inconsistentes e de investimentos concentrados em outras regiões do Rio de Janeiro. Planos diretores e estratégias urbanísticas sucessivas, de 1992 a(Leia mais)

Mirante do Pasmado, primo do Jardim de Alah

Tal como no caso do Jardim de Alah, a Justiça se arvora em urbanista, conhecedora das cidades, dos fenômenos urbanos e dos espaços que os induzem. Agora foi a vez do Mirante do Pasmado *, onde está plantado o Museu do Holocausto, panaceia para resolver a situação de abandono do local (sempre a mesma desculpa), que ironicamente, continua abandonado, o museu salvador fechado, à espera da própria salvação, com recursos públicos, quem sabe. Cancelem as faculdades de arquitetura e urbanismo, sociologia, geografia, história e  educação. Cancelem cursos de paisagismo, patrimônio cultural, ecologia. Descartem as preocupações com permeabilização do solo, poluição do ar, aquecimento global. O negócio é construir cada vez mais, expandir a malha urbana sem limites, para o lado e para o alto. Substituam-se todas as carreiras citadas pelo Direito, de onde sairão os magistrados oniscientes, donos da palavra(Leia mais)

Sempre o Gabarito – Centro e Ipanema: cqd *

No último dia 10, o jornal O Globo publicou a reportagem “O boom imobiliário de Ipanema”, na qual destaca que o mercado imobiliário de Ipanema vê surgirem dezenas de novos edifícios, crescimento impulsionado por lançamentos de alto padrão e forte valorização de preços. Esse movimento ocorre num contexto de escassez de terrenos disponíveis, elevada demanda por exclusividade por parte de segmentos de alta renda e investidores, além da valorização contínua do metro quadrado no bairro. Depois de alguns anos, a mídia aponta o que este blog afirmou desde o anúncio do programa “Reviver Centro”, baseado em isenções fiscais e aumento de gabaritos (fora do estabelecido em lei, por óbvio), a dupla recorrente que pretende resolver todos os problemas da cidade à custa de potencial construtivo exacerbado e liberação de impostos – leia-se: recursos públicos que deixam de ser aplicados em(Leia mais)

Rio, sempre à venda

Uma disputa urbana se desenrola na Barra da Tijuca, onde moradores de um condomínio de alto padrão conseguiram barrar, na Justiça, o leilão de um terreno da prefeitura avaliado em mais de R$ 21 milhões. O motivo da revolta? A possibilidade de o espaço ser destinado à construção de um templo religioso, contrariando a destinação legal prevista em lei. A decisão judicial, em caráter liminar, reflete um embate cada vez mais comum nas grandes cidades: o conflito entre interesses coletivos da vizinhança, legislação urbanística e o uso de terrenos públicos. O caso revela ainda como uma simples consulta da prefeitura pode mobilizar a sociedade e suspender procedimentos de alto impacto financeiro e político. Urbe CaRioca Moradores impedem que terreno da Barra da Tijuca vire templo religioso Terreno com lance mínimo de R$ 21 milhões, posto em leilão, fica na Barra(Leia mais)

Centro do Rio: Cultura à sombra do medo

Ir ao teatro na Cinelândia virou uma espécie de teste de bravura. Enquanto artistas e produtores culturais resistem heroicamente, oferecendo uma programação vibrante no coração histórico do Rio, o poder público abandona sua parte mais básica: garantir segurança a quem ousa atravessar a escuridão. À noite, o cenário é de filme distópico — com direito a estações de metrô fechadas, ruas desertas e um clima de medo que espanta a cultura e abraça o crime. O artigo de Gustavo Pinheiro publicado em O Globo retrata o cenário presente. A decisão de investir em eventos culturais junto com o projeto Reviver Centro (sim, o que provocou novo boom imobiliário em Ipanema e Leblon) é bem-vinda. Sem segurança será inócua. Fica o convite ao prefeito Eduardo Paes: que tal um passeio a pé pela Praça Floriano, um domingo à noite, após o(Leia mais)

Quando eu era criança, 2019 – O Beco da Tamandaré *

CrôniCaRioca *Artigo publicado neste blog em 12 de outubro de 2019. Quase seis anos depois, as leis urbanísticas continuam em franca modificação, sempre com o objetivo de aumentar o potencial construtivo dos terrenos no município do Rio de Janeiro.   Beco (Dicionário Houaiss) – subst. masculino – 1 rua estreita e curta, por vezes sem saída; ruela – 2 Regionalismo: Ceará. m.q. esquina Chamávamos o lugar de Beco. Ruas nem tão estreitas nem tão curtas aos olhos de uma menina pequena, saídas havia. Quatro entradas, portanto, quatro saídas. Beco, ainda que diferente. Nos anos 1950 e 1970, Zona Sul da Cidade Maravilhosa, a relação dos moradores com as ruas, por certo menos intensa do que na Zona Norte, ainda era rica. O espaço formado pelas vias internas do conjunto de três edifícios, que ainda existe no bairro do Flamengo, era meu e de(Leia mais)