Autoridades precisam sentir na pele o caos no transporte, por Andréa Redondo

Por Andréa Redondo – O Globo Link original Passageiros permanecem durante horas em ônibus lotados, ruidosos e abafados, no ‘Rio 40 graus’ de Fernanda Abreu No filme francês “Entre dois mundos”, a personagem interpretada por Juliette Binoche é escritora, fato de que o espectador ganha ciência no avançar da projeção. Para escrever sobre as dificuldades da classe trabalhadora francesa, decide viver sua realidade. Muda-se de Paris para uma cidade portuária e, sob nome falso, emprega-se como faxineira. O trabalho exaustivo intensifica-se quando passa a integrar a equipe noturna dedicada a limpar, em tempo exíguo, cabines da balsa que transporta passageiros entre a França e a Inglaterra. O livro a ser escrito exporá as condições precárias a que mulheres se submetem para sobreviver com parcos recursos vindos do trabalho honesto. O paralelo com a situação enfrentada por cariocas e fluminenses no(Leia mais)

Zona da Leopoldina: do desejo da classe média ao abandono, de Hugo Costa

Neste artigo, o geógrafo Hugo Costa destaca que a Zona da Leopoldina, que nos anos 1980 figurava como objeto de desejo da classe média carioca, é hoje um retrato vívido do abandono urbano. Naquele período, a região atraía investimentos privados e publicidade de peso — como o icônico comercial estrelado por Xuxa e Pelé, promovendo apartamentos com piscina, sauna e vista para a Igreja da Penha. Quase quatro décadas depois, a realidade mudou drasticamente: os imóveis se fecham, muitos são abandonados, e a população migrou para outras áreas da cidade, transformando a Leopoldina em uma espécie de “cidade fantasma” dentro da metrópole. O autor revela que essa transformação não ocorreu de forma isolada, mas refletiu décadas de políticas públicas inconsistentes e de investimentos concentrados em outras regiões do Rio de Janeiro. Planos diretores e estratégias urbanísticas sucessivas, de 1992 a(Leia mais)

Mirante do Pasmado, primo do Jardim de Alah

Tal como no caso do Jardim de Alah, a Justiça se arvora em urbanista, conhecedora das cidades, dos fenômenos urbanos e dos espaços que os induzem. Agora foi a vez do Mirante do Pasmado *, onde está plantado o Museu do Holocausto, panaceia para resolver a situação de abandono do local (sempre a mesma desculpa), que ironicamente, continua abandonado, o museu salvador fechado, à espera da própria salvação, com recursos públicos, quem sabe. Cancelem as faculdades de arquitetura e urbanismo, sociologia, geografia, história e  educação. Cancelem cursos de paisagismo, patrimônio cultural, ecologia. Descartem as preocupações com permeabilização do solo, poluição do ar, aquecimento global. O negócio é construir cada vez mais, expandir a malha urbana sem limites, para o lado e para o alto. Substituam-se todas as carreiras citadas pelo Direito, de onde sairão os magistrados oniscientes, donos da palavra(Leia mais)

Sempre o Gabarito – Centro e Ipanema: cqd *

No último dia 10, o jornal O Globo publicou a reportagem “O boom imobiliário de Ipanema”, na qual destaca que o mercado imobiliário de Ipanema vê surgirem dezenas de novos edifícios, crescimento impulsionado por lançamentos de alto padrão e forte valorização de preços. Esse movimento ocorre num contexto de escassez de terrenos disponíveis, elevada demanda por exclusividade por parte de segmentos de alta renda e investidores, além da valorização contínua do metro quadrado no bairro. Depois de alguns anos, a mídia aponta o que este blog afirmou desde o anúncio do programa “Reviver Centro”, baseado em isenções fiscais e aumento de gabaritos (fora do estabelecido em lei, por óbvio), a dupla recorrente que pretende resolver todos os problemas da cidade à custa de potencial construtivo exacerbado e liberação de impostos – leia-se: recursos públicos que deixam de ser aplicados em(Leia mais)

Rio, sempre à venda

Uma disputa urbana se desenrola na Barra da Tijuca, onde moradores de um condomínio de alto padrão conseguiram barrar, na Justiça, o leilão de um terreno da prefeitura avaliado em mais de R$ 21 milhões. O motivo da revolta? A possibilidade de o espaço ser destinado à construção de um templo religioso, contrariando a destinação legal prevista em lei. A decisão judicial, em caráter liminar, reflete um embate cada vez mais comum nas grandes cidades: o conflito entre interesses coletivos da vizinhança, legislação urbanística e o uso de terrenos públicos. O caso revela ainda como uma simples consulta da prefeitura pode mobilizar a sociedade e suspender procedimentos de alto impacto financeiro e político. Urbe CaRioca Moradores impedem que terreno da Barra da Tijuca vire templo religioso Terreno com lance mínimo de R$ 21 milhões, posto em leilão, fica na Barra(Leia mais)

Centro do Rio: Cultura à sombra do medo

Ir ao teatro na Cinelândia virou uma espécie de teste de bravura. Enquanto artistas e produtores culturais resistem heroicamente, oferecendo uma programação vibrante no coração histórico do Rio, o poder público abandona sua parte mais básica: garantir segurança a quem ousa atravessar a escuridão. À noite, o cenário é de filme distópico — com direito a estações de metrô fechadas, ruas desertas e um clima de medo que espanta a cultura e abraça o crime. O artigo de Gustavo Pinheiro publicado em O Globo retrata o cenário presente. A decisão de investir em eventos culturais junto com o projeto Reviver Centro (sim, o que provocou novo boom imobiliário em Ipanema e Leblon) é bem-vinda. Sem segurança será inócua. Fica o convite ao prefeito Eduardo Paes: que tal um passeio a pé pela Praça Floriano, um domingo à noite, após o(Leia mais)

Quando eu era criança, 2019 – O Beco da Tamandaré *

CrôniCaRioca *Artigo publicado neste blog em 12 de outubro de 2019. Quase seis anos depois, as leis urbanísticas continuam em franca modificação, sempre com o objetivo de aumentar o potencial construtivo dos terrenos no município do Rio de Janeiro.   Beco (Dicionário Houaiss) – subst. masculino – 1 rua estreita e curta, por vezes sem saída; ruela – 2 Regionalismo: Ceará. m.q. esquina Chamávamos o lugar de Beco. Ruas nem tão estreitas nem tão curtas aos olhos de uma menina pequena, saídas havia. Quatro entradas, portanto, quatro saídas. Beco, ainda que diferente. Nos anos 1950 e 1970, Zona Sul da Cidade Maravilhosa, a relação dos moradores com as ruas, por certo menos intensa do que na Zona Norte, ainda era rica. O espaço formado pelas vias internas do conjunto de três edifícios, que ainda existe no bairro do Flamengo, era meu e de(Leia mais)

Além da Urbe CaRioca: ponte em Petrópolis, condenada

A iminente renovação do contrato de concessão da BR-040 entre o Rio de Janeiro e Juiz de Fora reacende uma preocupação estrutural crítica em Petrópolis: a segurança da Ponte do Arranha-Céu, localizada em Itaipava. Apesar de condenada por laudo técnico e recomendada para demolição, a ponte permanece em uso diário, expondo a população a um risco potencial de colapso. O caso evidencia um descompasso preocupante entre o reconhecimento técnico do perigo e a morosidade das ações institucionais, refletindo falhas de articulação entre o poder público e as concessionárias envolvidas. Neste contexto, a mobilização da associação Unidos por Itaipava (UNITA) ganha relevo, ao exigir a antecipação das obras de substituição da ponte — previstas apenas para 2028 — como uma medida emergencial de segurança viária e responsabilidade pública. Urbe CaRioca UNITA cobra antecipação da nova ponte do Arranha-Céu e alerta para(Leia mais)

Transparência sob pressão: Justiça cobra documentos da Prefeitura do Rio sobre decks irregulares na orla

A instalação de estruturas irregulares nas praias da Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes voltou ao centro de uma disputa judicial. Desta vez, a Prefeitura do Rio de Janeiro foi intimada pela Justiça Federal a apresentar documentos que vêm sendo ignorados desde 2024, dificultando a atuação do Ministério Público Federal (MPF) na apuração de possíveis danos ambientais. O foco da controvérsia são os decks anexos a quiosques, que podem estar avançando ilegalmente sobre a faixa de areia e afetando a vegetação nativa. O texto abaixo foi publicado no portal do Ministério Público Federal Urbe CaRioca Prefeitura do Rio deverá apresentar ao MPF processos sobre instalação de decks na orla Ausência das informações impossibilita a análise necessária para a propositura de eventual ação voltada à reparação de danos ambientais Após ação de exibição de documentos ajuizada pelo Ministério Público(Leia mais)

Ai de Ti, Copacabana

Por Claudia Madureira, arquiteta e urbanista, aposentada da PCRJ   Copacabana parece ter saído de uma zona de guerra, onde dormem e erram famintos zumbis que reviram montes de lixo, sempre esparramado pelas calçadas. Estas parecem ter sofrido bombardeios, de tantos buracos e remendos. Entre tudo e todos, camelôs. Neste cenário pós- apocalíptico, lojas se transformam em tendas pobres, ou são fechadas. Agências Bancárias abandonam suas instalações com a expansão dos serviços digitais e se oferecem como novos pontos comerciais, inutilmente. Farmácias surgem a cada dia, quatro, cinco por quarteirões, e se mantêm vazias, sugerindo estranhas atividades. Junto ao mar, na calçada, quiosques se fecham com muros de plantas sobre vasos altos e privatizam a visão da praia, em meio a sons tão altos que escondem os ruídos do mar. Entre os quiosques das calçadas, nas areias, barracas informais de(Leia mais)

Sempre o gabarito. Agora travestido de Metrô

Prefeito do Rio quer negociar com o estado a liberação de potencial construtivo para financiar a Linha 6. Em troca, pede integração do Jaé com Riocard e gestão dos trens urbanos na capital. Mas vale questionar: Não fez o BRT ? Qual o trajetória? É de superfície? No mesmo lugar do BRT? Urbe CaRioca   Paes propõe apoio para linha seis do metrô ,expansão da Linha 4 até o Recreio e quer assumir trens da SuperVia no Rio Por O Globo — Link original O prefeito Eduardo Paes afirmou, em suas redes sociais, que encaminhou ao secretário estadual de Transportes, Washington Reis, a posição favorável à expansão do metrô do Rio, com a criação da linha seis que ligaria Barra, Jacarepaguá e a Zona Norte; e a expansão da Linha 4 até o Recreio. “Para tal, a prefeitura do Rio(Leia mais)